Saúde

Novo estudo feito com brasileiros mostra ineficácia da ivermectina na prevenção de quadros graves da covid-19

Cientistas observaram que não houve diferença significativa no risco de piora da doença, incluindo hospitalização e ventilação mecânica, entre voluntários que tomaram vermífugo ou placebo

Por João Paulo Martins  em 17 de maio de 2022

(Fotos: Vitamedic.ind.br/Reprodução)

 

Estudo publicado em 5 de maio no periódico científico New England Journal of Medicine voltou a apontar a ineficácia do vermífugo ivermectina na prevenção de quadros graves de covid-19. Cientistas confirmaram que o uso precoce do remédio em pacientes infectados pelo coronavírus, e que tinham alto risco de evoluir para um quadro grave da doença, não reduziu o risco de hospitalização ou permanência prolongada nas enfermarias.

Os pesquisadores usaram dados do estudo randomizado Together, que envolve mais de 8.000 voluntários brasileiros, e descobriram que 14,7% dos pacientes que receberam ivermectina e 16,3% dos que ingeriram placebo necessitaram de hospitalização ou foram parar no pronto-socorro após 28 dias devido à piora dos sintomas da covid.

Como mostra o site americano de notícias médicas Medpage Today, mais de 60 estudos randomizados analisaram o vermífugo como tratamento para o coronavírus (SARS-CoV-2), no entanto, a maioria deles tinha amostra pequena e alguns foram “retirados das plataformas de publicação por preocupações com a credibilidade”.

Os dados do estudo Together foram coletados de 23 de março de 2021 a 6 de agosto de 2021 e os participantes receberam, durante três dias, 400 μg (microgramas ou 0,4 miligrama) de ivermectina por quilo corporal ou placebo.

Os voluntários eram adultos com condições médicas de alto risco que chegaram ao pronto-socorro com “uma condição clínica aguda consistente com a covid-19” após sete dias do início dos sintomas, informa o site especializado. Pacientes que foram vacinados contra o SARS-CoV-2 também eram elegíveis para participar da análise.

Foram 1.358 participantes que receberam de forma randomizada ivermectina ou placebo. A idade média deles era de 49 anos, sendo 58% de mulheres e quase todas identificadas como mestiças – 12% tinham diabetes tipo 2, que foi considerada uma condição de alto risco para piora do quadro de covid.

De acordo com o Medscape Today, 100 pacientes brasileiros receberam ivermectina e 111 ingeriram placebo. Desse total, 81% foram hospitalizados após uma média de cinco dias. Não houve diferenças significativas na eliminação do vírus após sete dias de medicação em todos os voluntários e nem no risco de hospitalização por qualquer causa, tempo de internação e número de dias no hospital.

Os pesquisadores também não observaram diferença significativa no tempo de recuperação clínica, risco de morte ou dias internados usando ventilação mecânica.

O que diz a fabricante
A biofarmacêutica americana Merck, conhecida como MSD fora dos Estados Unidos e Canadá, emitiu um comunicado em fevereiro de 2021 informando que os cientistas da empresa estavam analisando os estudos sobre o uso da ivermectina no tratamento da covid-19 e que não havia encontrado evidências da eficácia ou segurança no uso diferente do antiparasitário.

Veja o que a Merck disse na época:

É importante notar que, até o momento, nossa análise identificou:

  • Nenhuma base científica para um potencial efeito terapêutico contra a covid-19 a partir de estudos pré-clínicos
  • Nenhuma evidência significativa de atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com covid-19
  • A preocupante falta de dados de segurança na maioria dos estudos
  • Não acreditamos que os dados disponíveis apoiem a segurança e eficácia da ivermectina além das doses e populações indicadas nas informações de prescrição aprovadas pela agência reguladora
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