Saúde

Ivermectina reduz em 56% as mortes por covid-19? Saiba a verdade!

Estudo recente que vem sendo usado como prova da eficácia do vermífugo no tratamento da covid-19 é uma meta-análise, sem efeito clínico, e se baseou num número pequeno de mortes

Por João Paulo Martins  em 08 de julho de 2021

(Foto: Biogaran/Divulgação)

Alguns sites estão noticiando que um estudo publicado na última terça (6/7) no repositório científico Open Forum Infectious Diseases, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, seria a comprovação de que o vermífugo ivermectina ajudaria a reduzir em 56% o número de mortes de pacientes com covid-19.

Em primeiro lugar, é preciso dizer que o estudo clínico sobre a eficácia desse medicamento antiparasitário no tratamento da infecção causada pelo novo coronavírus está sendo realizado por uma plataforma de cientistas chamada Principle, iniciada em junho deste ano, e que é liderada pela Universidade de Oxford. Nenhum resultado foi divulgado ainda.

Já a pesquisa publicada na terça (6/7) é uma meta-análise de outros 24 estudos divulgados em repositórios científicos, como o MedRxiv. Portanto, não foram realizados testes nem comprovação de causa e efeito.

“A ivermectina foi associada a marcadores inflamatórios reduzidos, como proteína C reativa, dímero-d e ferritina, e eliminação viral mais rápida por PCR [teste da presença do DNA do vírus]. A depuração viral foi dependente da dose e da duração do tratamento. Em 11 ensaios clínicos randomizados de infecção moderada/grave, houve uma redução de 56% na mortalidade […] com recuperação clínica favorável e hospitalização reduzida”, afirma o resumo do estudo recém-divulgado.

Porém, como os próprios cientistas alertam no texto, “muitos estudos incluídos não foram revisados por pares [outros pesquisadores] e uma ampla gama de doses foi avaliada”. “Atualmente, a OMS recomenda o uso de ivermectina apenas em ensaios clínicos. Uma rede de grandes ensaios clínicos está em andamento para validar os resultados vistos até o momento”, completam os autores.

Ainda segundo os autores, no artigo publicado no Open Forum Infectious Diseases, a redução de 56% na mortalidade por covid-19 foi baseada em apenas 128 mortes registradas nos ensaios avaliados e não houve diferença entre o uso da ivermectina e o tratamento padrão no subgrupo considerado grave.

“O benefício de sobrevida de 56% visto nesta meta-análise é baseado em 128 mortes, em 11 ensaios clínicos diferentes. Este é um número total de mortes menor do que o ensaio Recovery [da Universidade de Oxford], que levou à aprovação da dexametasona [corticoide indicado para reumatismo] e é baseado em 1.592 mortes”, afirmam os cientistas no estudo.

Eles lembram que outros medicamentos reaproveitados, como os antivirais remdesivir e sofosbuvir, mostraram-se promissores em estudos menores, mas o benefício não foi observado posteriormente em estudos maiores.

“Nossa meta-análise de 24 ensaios clínicos randomizados com 3.328 pacientes mostrou uma melhora de 56% na sobrevida, tempo mais rápido para a recuperação clínica e sinais de um efeito dependente da dose de depuração viral para pacientes que receberam ivermectina versus tratamento de controle. Esse benefício precisa ser validado em estudos confirmatórios maiores”, completam os pesquisadores no artigo publicado na terça (6/7).

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