Saúde

Instituto decide cancelar polêmica eutanásia na Colômbia

A colombiana Martha Sepúlveda foi diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica (ELA) e faria a morte assistida neste domingo (10/10)

Por João Paulo Martins  em 10 de outubro de 2021

O Instituto Colombiano da Dor da Colômbia voltou atrás e cancelou a eutanásia de Martha Sepúlveda (Foto: YouTube/Noticias Caracol/Reprodução)

 

Em comunicado divulgado no último sábado (9/10), o Instituto Colombiano da Dor, com sede em Medellín, na Colômbia, decidiu cancelar a polêmica eutanásia da colombiana Martha Sepúlveda, que sofre com esclerose lateral amiotrófica (ELA), que seria realizada neste domingo (10/10).

Ela seria a primeira colombiana a receber o procedimento desde que o Tribunal Constitucional do país autorizou, em julho deste ano, que pacientes com doenças não terminais pudessem ser eutanasiados.

De acordo com o jornal argentino El Dia, o instituto afirma que decidiu cancelar o procedimento “por ter um conceito atualizado do estado de saúde e evolução da paciente” com o qual “se definiu o critério para rescisão”.

A Colômbia foi o primeiro país da América Latina a descriminalizar a eutanásia, e um dos poucos no mundo onde ela é legal, depois que o Tribunal Constitucional de 1997 consagrou a morte digna como direito fundamental em caso de doença terminal. O paciente que está sofrendo pode solicitar voluntariamente a medida que será realizada por um médico.

Como mostra o jornal, a decisão de julho altera o “crime de misericórdia” do código penal colombiano que previa penas de até 54 meses de prisão e anula a necessidade de doença terminal.

Embora legal desde 1997, o direito à morte assistida só começou a ser exercido em 2015 e os procedimentos ainda enfrentam barreiras, revela o El Dia, como a realização apenas em algumas cidades e centros médicos que não sabem como agir.

Além disso, o parlamento colombiano não aprovou vários projetos de lei que buscavam regularizar a morte digna.

O caso de Martha Sepúlveda ficou conhecido em todo o mundo em setembro, quando uma reportagem da emissora colombiana Caracol anunciou que ela ia morrer neste domingo (10/10), aos 51 anos.

“Em relação ao plano espiritual, fico totalmente tranquila […] Vou ser uma covarde, mas não quero sofrer mais, estou cansada. Luto para descansar”, afirma a colombiana na entrevista á Caracol, citada pelo jornal argentino.

Desde o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica, Martha começou a perder força nas pernas e caminhar se tornou uma tarefa cada vez mais difícil, o que piorou sua qualidade de vida. Para ela, a morte lhe daria tranquilidade.

Assim que sua eutanásia se tornou pública, a Conferência Episcopal da Colômbia convidou Martha Sepúlveda para “refletir com calma sobre a decisão”.

“Esperançosamente, se as circunstâncias permitirem, longe do assédio da mídia que não hesitou em usufruir de sua dor e a da sua família, para fazer uma espécie de propaganda da eutanásia”, comenta dom Francisco Antonio Ceballos Escobar, presidente da Comissão Episcopal para a Promoção e Defesa da Vida, citado pelo El Dia.

Por sua vez, o deputado federal Juan Fernando Reyes, representante da Câmara, também citado pelo periódico, lamenta “que tenham negado a eutanásia a Martha Sepúlveda”.

“Morrer com dignidade é um direito de todos, o estado não tem que interferir nessa decisão nem ninguém mais. Se queremos que nossas crenças e decisões íntimas sejam respeitadas, comecemos a respeitar as dos outros”, afirma o deputado liberal, segundo o jornal argentino.

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