Saúde
Implante cerebral pode ser alternativa para depressão severa
Estudo consegue bom resultado com dispositivo eletrônico implantado no cérebro de uma paciente que sofria há cinco anos com depressão severa
Pesquisadores conseguiram aliviar a depressão severa de uma paciente usando implante eletrônico no cérebro que atua como um “marca-passo” neural, reiniciando os circuitos cerebrais associados aos sentimentos negativos, informa o jornal americano Financial Times.
A equipe da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), citada pelo jornal, afirma que o estudo é “um marco no esforço científico para tratar distúrbios psiquiátricos por meio de uma eletrônica neural cuidadosamente direcionada”.
Os resultados da pesquisa foram publicados nesta segunda (4/10) na revista científica Nature Medicine.
“Nós desenvolvemos uma abordagem da medicina de precisão capaz de administrar com sucesso a depressão resistente ao tratamento de nossa paciente, identificando e modulando o circuito em seu cérebro que está exclusivamente associado a seus sintomas”, afirma o pesquisador Andrew Krystal, um dos autores do estudo, citado pelo Financial Times.
Em conversa com o jornal americano, a paciente de 36 anos, que pediu para ser chamada de Sarah, diz que o implante transformou sua vida após sofrer durante cinco anos com forte depressão que não respondia a nenhuma medicação ou terapia eletroconvulsiva. “Eu me sentia torturada por pensamentos suicidas todos os dias. Eu estava no meu limite”, completa a paciente.
Quase imediatamente após o implante ser colocado no cérebro, Sarah sentiu um alívio, que já dura um ano. Quando ele detecta atividade neural associada a pensamentos irracionais, que anteriormente desencadeavam obsessões depressivas, eletrodos emitem um pulso elétrico corretivo curto, que interrompe a sensação ruim, explica o Financial Times.
Antes do estudo da Universidade da Califórnia em São Francisco, o uso da neuroeletrônica para tratar depressão esbarrava na falta de conhecimento dos cientistas sobre os circuitos cerebrais associados à doença.
A principal descoberta da equipe foi um “biomarcador” que indica o início dos sintomas depressivos, um padrão específico de atividade neural na parte do cérebro chamada amígdala e que lida com respostas a ameaças, diz o periódico.
O dispositivo usado na paciente Sarah foi adaptado de um normalmente associado ao tratamento da epilepsia. Quando ele detecta o biomarcador na amígdala, envia minúsculos pulsos elétricos para outra área, o estriado ventral, que faz parte do sistema de recompensa e prazer do cérebro. Isso elimina imediatamente os indesejáveis pensamentos negativos.
“Colocar implante sob o crânio com eletrodos que se estendem profundamente no cérebro é um procedimento caro, invasivo e potencialmente arriscado. Assim que os detalhes dos circuitos cerebrais subjacentes à depressão forem melhor compreendidos, esperamos encontrar biomarcadores não invasivos que possam ser usados”, afirma a pesquisadora Katherine Scangos, uma das autoras do estudo, citada pelo Financial Times.