Saúde

Exame anual para detectar câncer de ovário não salva vidas, sugere estudo

Pesquisa britânica mostra que o diagnóstico precoce do tumor nas mulheres com sintomas da doença é mais eficaz que a detecção por ultrassom ou exame de sangue

Por João Paulo Martins  em 13 de maio de 2021

(Foto: University of California San Francisco/Reprodução)

O câncer de ovário deve afetar 6.650 brasileiras anualmente até 2022, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A realização de exame anual ode antecipar a detecção do tumor mas não salva vidas, sugere um dos maiores estudos já realizados sobre o tema.

Embora a descoberta seja um golpe para as mulheres afetadas pelo câncer de ovário, a esperança é que o diagnóstico precoce possa reduzir a intensidade do tratamento.

Como mostra uma matéria publicada na última quarta (12/5) no jornal britânico The Guardian, a falta de um sintoma específico faz com que esse tumor só seja detectado em estágio avançado. De 80 a 90% das mulheres cujo câncer de ovário é diagnosticado precocemente, a taxa de sobrevivência é de pelo menos cinco anos – esse número cai para 25% quando a doença é diagnosticada tardiamente, explica o periódico.

No estudo realizado pela Universidade College de Londres, no Reino Unido, e publicado na última quarta (12/5) no jornal científico The Lancet, foram analisados dados de mais de 200.000 mulheres na pós-menopausa, recrutadas entre 2001 e 2005. Metade delas não foi submetida a exames, enquanto as demais realizaram ultrassom vaginal anual ou um exame de sangue anual para detectar a proteína chamada CA125, associada ao tumor no ovário.

Exame não impediu taxa de morte pelo câncer

Os resultados apontam que, embora o exame de sangue tenha detectado 39% mais cânceres em estágio inicial na comparação com a ultrassonografia vaginal e com o grupo de controle (sem diagnóstico), isso não se representou uma redução nas mortes pela doença.

"Ou precisamos encontrar mais indivíduos em estágio inicial da doença e menos com a doença em estágio avançado por meio do rastreamento, ou esse tumor é tal que, mesmo que você fizesse isso, a biologia do câncer de ovário significa que ele caminhará para a forma agressiva independente do que se faça. Mesmo se descobrir o problema na fase inicial", comenta o pesquisador Mahesh Parmar, do Conselho de Pesquisa Médica da Universidade College de Londres, principal autor do estudo, citado pelo The Guardian.

Os cientistas notaram que as mulheres diagnosticadas por meio do exame de sangue não responderam tão bem ao tratamento padrão quanto as que não fizeram o rastreamento, mas que tiveram os tumores identificados precocemente com base nos sintomas.

Por mais decepcionantes que sejam os resultados, Mahesh Parmar, citado pelo jornal, lembra que nas mulheres que apresentam sintomas de câncer de ovário, o diagnóstico precoce, combinado com os recentes avanços no tratamento da doença, ainda pode salvar muitas vidas.

"Nosso estudo mostra que o rastreamento não foi eficaz em mulheres que não apresentam sintomas de câncer de ovário. Nas que apresentam sintomas, o diagnóstico precoce, combinado com o tratamento moderno, ainda é possível fazer diferença na qualidade de vida e, potencialmente, melhorar os resultados . Além disso, obter um diagnóstico rápido, seja qual for o estágio do câncer, é profundamente importante para as mulheres e suas famílias", diz o pesquisador ao The Guardian.

A equipe está conduzindo análises adicionais para verificar se a detecção precoce pode resultar em cirurgia ou quimioterapia menos invasiva.

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