Saúde

Em teste controverso, Reino Unido infectará jovens com o coronavírus

O polêmico estudo servirá para avaliar a eficácia de diferenets vacinas

Por João Paulo Martins  em 18 de fevereiro de 2021

(Foto: Freepik)

O comitê de ética que supervisiona os testes clínicos no Reino Unido liberou uma equipe de pesquisa para infectar intencionalmente voluntários com o novo coronavírus (SARS-CoV-2), num experimento pioneiro no mundo e que visa acelerar a pesquisa de vacinas contra a covid-19. A informação foi divulgada na última quarta (17/2) pelo site da revista científica Science.

O controverso estudo, intitulado “desafio humano”, irá, num primeiro momento, determinar a menor quantidade de coronavírus necessária para infectar voluntários jovens saudáveis.

Esse método já é usado para gripe e várias outras doenças infecciosas e permite comparações rápidas de diferentes vacinas, fornecendo uma resposta mais simples e rápida sobre a eficácia delas.

O risco inevitável do “desafio humano” usando a covid19 é que a doença pode ser fatal, mesmo para jovens saudáveis, e não há nenhum remédio comprovado para uso emergencial ou tratamento que interrompa de forma confiável a infecção.

De acordo com o Science, os opositores ao teste humano também observam que mesmo uma infecção leve por SARS-CoV-2 pode ter consequências em longo prazo e dizem que as questões avaliadas por esse estudo podem ser respondidas por meio de testes convencionais das vacinas.

Mesmo assim, muitos voluntários no Reino Unido declararam a disposição para participar de tal estudo. E os cientistas, citados pelo site científico, afirmam que, apesar do sucesso de vários imunizantes contra covid-19, os testes em humanos podem oferecer informações vitais.

Jovem serão infectados e monitorados

A equipe do “desafio humano” selecionará 90 voluntários saudáveis com idades entre 18 e 30 e, após expô-los a quantidades variáveis do coronavírus, os deixará em isolamento e monitoramento 24 horas por dia.

Os infectados receberão rapidamente Remdesivir, um medicamento aprovado em vários países para tratar pessoas infectadas que apresentam estado grave da covid-19 ou que já estão hospitalizadas com a doença, afirma o principal investigador do estudo, o imunologista Christopher Chiu, da Imperial College London, em entrevista à Science.

“Faremos medições de carga viral duas vezes ao dia para que possamos ver se o Remdesivir tem eficácia como um tratamento preventivo muito precoce”, completa o cientista.

Vale dizer que o antiviral só foi testado em pacientes hospitalizados, com resultados mistos, mas pesquisadores há muito afirmam que poderia funcionar melhor se administrado no início da infecção.

Outro ponto importante é que o “desafio humano” do Reino Unido usará uma cepa do SARS-CoV-2 obtida no Verão de 2020 (junho a setembro no hemisfério norte). “No momento, estamos considerando quais variantes devemos buscar para que os testes das vacinas sejam mais relevantes e possam ser reprojetadas, se for o caso”, afirma Chiu ao site.

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