Saúde
Duas subvariantes da ômicron são detectadas na África do Sul e preocupam cientistas
Chamadas de BA.4 e BA.5, as novas cepas mostraram capacidade de contornar a imunidade das vacinas e da pós-infecção por covid-19
Mais uma vez, a África do Sul pode afetar os rumos da pandemia de covid-19. Epidemiologistas e virologistas estão de olho no aumento de casos no país africano, apenas cinco meses após a variante ômicron ter surgido e elevado o número de infecções em todo o mundo. Desta vez, especialistas alertam para duas subvariantes da ômicron, chamadas BA.4 e BA.5, que foram detectadas pela primeira vez em janeiro pela Rede para Vigilância Genômica (Network for Genomic Surveillance).
Segundo artigo do site da revista científica Science, as novas cepas não geraram muito impacto inicialmente, mas nas últimas semanas o número de casos na África do Sul saltou de cerca de 1.000 por dia, em 17 de abril, para quase 10.000 no último sábado (7/5).
Ainda não está claro se as novas subvariantes causarão outra onda global de covid-19. Mas, como as versões anteriores da ômicron, como a BA.2, que inclusive chegou ao Brasil, elas têm grande capacidade de transpor a imunidade gerada pelas vacinas, por infecções anteriores ou por ambas, alerta o artigo da Science.
As internações na África do Sul, por exemplo, aumentaram, “mas estão começando em um nível muito baixo, não é motivo de alarme”, alerta o virologista Túlio de Oliveira, da universidade sul-africana de Stellenbosch, que ajudou a identificar a BA.4 e a BA.5, citado pela revista científica. O número de pacientes internados em UTIs está tão baixo quanto no início da pandemia, afirma o cientista. “No momento, esperamos algo semelhante à onda da ômicron [BA.1]”, quando as taxas de hospitalização permaneceram administráveis.
As novas subvariantes foram descritas em estudo pré-publicado em 1º de maio no repositório científico online medRxiv – ainda não foi revisado por outros cientistas.
Cepas mais “eficientes”
O problema dessas novas cepas da ômicron é que apresentam alta capacidade de contornar a “barreira de imunidade” construída nos últimos dois anos e de se disseminar de forma rápida.
Como mostra a Science, todas as novas subvariantes compartilham mutações com a cepa BA.2 da ômicron, que, como BA.1 (original), surgiu na África do Sul. O estudo pré-publicado sugere que a BA.4 e a BA.5 podem iludir a imunidade de pacientes que foram infectados com a BA.1, que no país africano causou uma “onda” muito maior do que a BA.2.
Todas as novas subvariantes têm mutações que alteram um aminoácido chave chamado L452, o que pode ajudar a explicar a capacidade de evitar a imunidade. Esse aminoácido faz parte do sistema que o coronavírus usa para se ligar à célula humana, no caso, a proteína spike, que gera a infecção. O L452 é um alvo importante dos anticorpos do sistema imunológico.
A variante delta da covid-19, que causou surtos devastadores em todo o mundo em 2021, também apresentou mutações nesse aminoácido, por isso muitos cientistas estão atentos a essas alterações. Pesquisadores suspeitam que essa seja a resposta do vírus aos altos níveis de imunidade gerados pelas vacinas e pela imunidade pós-infecção.