Saúde

Descoberto como as células do câncer se regeneram

Ao danificar células cancerosas, cientistas descobriram que elas usam a técnica da macropinocitose para reparar o dano e ainda aproveitam o material excedente como alimento

Por João Paulo Martins  em 04 de julho de 2021

(Foto: Shutterstock)

Cientistas sabem que os danos à membrana das células pode ser fatal para elas, porque ocorre o vazamento do conteúdo interno, que é fluido. Portanto, esse tipo de estrago precisa ser reparado rapidamente. O problema é que as células cancerosas sabem muito bem como agir.

Pesquisadores dinamarqueses descobriram que o câncer usa uma técnica chamada macropinocitose para se regenerar. A célula cancerosa puxa um pedaço intacto da membrana celular sobre a área danificada, selando o orifício, que é transformado numa pequena esfera e transportado para o “estômago” celular (lisossomo), onde é decomposto.

No laboratório, os cientistas danificaram membranas de células cancerosas usando um laser e induziram a macropinocitose. Em seguida, puderam testar possíveis formas de inibir esse processo com substâncias bloqueando a formação das pequenas esferas Com isso, a célula cancerosa não seria mais capaz de reparar o dano e morreria.

O teste faz parte de um estudo publicado na última sexta (2/7) na revista científica Science Advances.

“Nossa pesquisa fornece conhecimentos básicos sobre como as células cancerosas sobrevivem. Nos experimentos também mostramos que elas morrem se o processo for inibido, e a macropinocitose é apontada como alvo para futuros tratamentos. É uma perspectiva de longo prazo, mas é interessante”, afirma o pesquisador Jesper Nylandsted, da Universidade de Copenhagen, um dos autores do estudo, citado pelo site de notícias científicas EurekAlert.

Câncer usa “reciclagem” celular

Uma das propriedades mais perigosas do câncer é a metástase, ou seja, quando a doença se espalha pelo corpo. Se os tumores atingem novas áreas do organismo, acabam se tornando mais difíceis de tratar.

Justamente as células cancerosas mais agressivas, comumente associadas à metástase, utilizam a técnica da macropinocitose para se regenerarem, numa espécie de “reciclagem”.

O câncer tem a oportunidade de reutilizar a membrana celular danificada quando ela é degradada nos lisossomas. De acordo com os cientistas dinamarqueses, esse tipo de reciclagem é útil para as células cancerosas porque elas se dividem com frequência, exigindo grande quantidade de energia e material para as novas células.

A expectativa dos pesquisadores é que no futuro, tratamentos possam impedir o processo de macropinocitose nos tumores.

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