Cultura
Ouça a 10ª Sinfonia de Beethoven finalizada pela inteligência artificial
Uma equipe de especialistas usou IA para dar continuidade à sinfonia que o famoso compositor alemão devia ter terminado no início do século XIX
Quando o célebre compositor alemão Ludwig von Beethoven morreu em 1827, ele havia conseguido terminar a 9ª Sinfonia (sua obra-prima), que fora solicitada em 1817 pela Real Sociedade Filarmônica de Londres, no Reino Unido. Porém, apesar de ter começado a 10ª Sinfonia, também encomendada pela instituição britânica, devido à deterioração da saúde, não conseguiu dar continuidade ao trabalho.
Desenvolvidas para orquestras, as sinfonias geralmente contêm quatro movimentos: o primeiro é executado em andamento rápido; o segundo em andamento mais lento; a terceira parte em andamento médio ou rápido; e o último movimento em andamento rápido.
Beethoven completou a 9ª Sinfonia em 1824, que termina em grande estilo com Ode an die Freude/Ode to Joy. Mas em relação à 10ª Sinfonia, o compositor não deixou muito conteúdo, apenas algumas notas musicais e um punhado de ideias que havia rascunhado.
No início de 2019, Matthias Röder, diretor do instituto The Mindshift and Karajan, de Salzburg, na Áustria, decidiu formar uma equipe de especialistas para finalizar a sinfonia incompleta usando inteligência artificial (IA) em comemoração ao 250º aniversário de nascimento de Beethoven (celebrado em 2020).
Como mostra o site da empresa telefônica alemã Telekom, patrocinadora do projeto, participaram da equipe o musicólogo Robert Levin, da Universidade de Harvard (EUA), o especialista em IA Ahmed Elgammal, da Universidade de Rutgers (EUA), o maestro Mark Gotham, da Universidade de Cornell (EUA), o compositor austríaco Walter Werzowa, e a musicóloga alemã Christine Siegert, do Museu Casa de Beethoven, na Alemanha.
“Para esse projeto em particular tentamos entender o estado da arte na produção de música. E tentei ver quais são as limitações. Acabamos usando alguns módulos inspirados no processamento de linguagem natural. Eles já foram usados na criação de música, mas tentamos levar isso mais além e criar sequências cada vez mais longas e entender a estrutura musical em um nível diferente, a ponto de podermos realmente gerar música com sentimento”, explica Ahmed Elgammal ao site da Telekom.
Para conseguir isso, as sinfonias, notas, esquetes musicais e partituras de Beethoven foram analisadas e convertidas em dados para serem usados no método de aprendizado de máquina. Algoritmos foram adaptados para essa tarefa, incluindo de processamento de voz, porque, como mostra o site alemão, a música, assim como a linguagem, é composta de pequenas unidades (notas) que geram significado quando colocadas juntas.
No final das contas, os especialistas desenvolveram um sistema que foi capaz de “entender” o estilo de Beethoven. Com isso, os fragmentos inacabados da 10ª sinfonia serviram de base para a IA expandir os movimentos, refletindo o estilo da obra do grande compositor alemão.
Segundo o site da Telekom, as sugestões de notas feitas pela inteligência artificial foram analisadas pelos musicólogos, que selecionaram as melhores alternativas e as compilaram no sistema. Em seguida, a tarefa foi repetida e mais algumas notas foram adicionadas. Em outras palavras, o trabalho musical foi crescendo passo a passo.
“A IA nos permite criar a continuidade de um movimento em 20 ou até 100 versões diferentes. E isso é simplesmente incrível, porque quando feito com precisão algorítmica, todo resultado experimental é plausível”, comenta Robert Levin ao site alemão.
Claro que muitas ideias escritas por Beethoven são abstratas e a IA não é 100% eficaz em compreendê-las. Por exemplo, a equipe de especialistas descobriu ideias relacionadas a um coral entre os rascunhos do compositor. Então, o computador precisou trabalhar com base nesses fragmentos históricos.
Ouça abaixo a versão da IA para a 10ª Sinfonia de Beetoven: