Cultura

Os impáticos dugongos, parentes do peixe-boi, podem estar extintos na China

Estudo revela que os mamíferos marinhos não são mais vistos na costa sul chinesa, que costumava ser o principal habitat deles

Por João Paulo Martins  em 26 de agosto de 2022

O dugongo é um parente do peixe-boi e sua população decai rapidamente na China desde 1975 (Foto: Instagram/earthdotcom/Reprodução)

 

Antigamente, os dugongos (Dugong dugon), parentes do nosso peixe-boi, nadavam pacificamente nas águas do sul da China. Agora, no entanto, devido à caça, à perda de habitat, às colisões com navios e outras intervenções humanas, esses gentis mamíferos marinhos estão “funcionalmente extintos” no país asiático, de acordo com estudo publicado na última quarta (24/8) na revista científica Royal Society Open Science.

Pesando mais de 360 km e medindo até três metros de comprimento, os dugongos  são mamíferos que passam a maior parte do tempo pastando em gramas do fundo do mar, explica a revista do Instituto Smithsonian, dos EUA. Embora sejam as únicas espécies sobreviventes da família Dugongidae, os dugongos – muitas vezes chamados de “vacas marinhas” – são primos dos peixes-boi, mas, apesar da semelhança, se diferem dos mamíferos típicos do Brasil, do Caribe e do Oeste da África pelos narizes e caudas: os dugongos têm focinhos mais largos e semelhantes a troncos e caudas que se assemelham às dos golfinhos.

De acordo com a revista americana, os dugongos podem viver até os 70 anos, mas têm uma taxa de reprodução lenta, o que torna mais difícil para eles se recuperarem das interferências humanas. Quando não têm gramas subaquáticas suficientes para comer, eles podem atrasar a reprodução. E à medida que as plantas marinhas desaparecem no mundo, as populações de dugongos também acabam reduzindo drasticamente.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) lista esses mamíferos aquáticos como “vulneráveis” em escala global, e o governo chinês os classifica, desde 1988, como “Animal Protegido Nacionalmente em Grau 1”, o mais alto nível de proteção do país asiático. Mas os cientistas do estudo recém-divulgado notaram que a verdadeira situação da população de dugongos nas águas chinesas era “mal entendida” e decidiram entender melhor.

Como mostra a Smithsonian, pesquisadores entrevistaram centenas de pescadores profissionais que vivem e trabalham em quatro províncias costeiras do sul da China (Hainan, Guangxi, Guangdong e Fujian). Elas abrangem quase todo o habitat conhecido dos dugongos em território chinês. Os cientistas também estudaram todos os registros históricos disponíveis, desde o século XX até o presente.

As conversas com os pescadores revelaram um quadro preocupante: dos 788 participantes do estudo, que pescavam há uma média de 25 anos, apenas 5% relataram ter visto um dugongo.

Apenas três dos pescadores haviam avistado a espécie nos últimos cinco anos. Dois desses avistamentos ocorreram em uma área distante de onde os dugongos historicamente viviam na China, conta a revista americana, o que sugere que esses animais deviam ser “indivíduos errantes” originados das Filipinas.

Além disso, os pesquisadores não encontraram registros científicos de avistamentos dos mamíferos desde o ano 2000. O número de dugongos atingiu o pico por volta de 1960 e a rápida redução se deu a partir de 1975.

Os dugongos vivem em outras partes do mundo, inclusive nas costas de 37 países da África Oriental ao Pacífico Ocidental, mas seu desaparecimento na China é um alerta de que extinções podem ocorrer antes que ações efetivas de conservação sejam desenvolvidas, lembra a Smithsonian.

Carregar Mais