Cultura

Naufrágio descoberto na costa da Argentina em 2021 é de um submarino nazista alemão da Segunda Guerra

O achado pode ajudar a confirmar a teoria da conspiração que afirma que Adolf Hitler teria desembarcado de forma oculta na costa argentina

Por João Paulo Martins  em 18 de outubro de 2022

Periscópio teria ajudado a confirmar que se trata de um u-boat nazista (Fotos: YouTube/Abel Basti/Reprodução e Army Film & Photographic Unit/Tanner (Lt)/Domínio Público)

 

Logo após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), surgiram inúmeros relatos de supostos desembarques clandestinos de submarinos alemães na costa da Argentina. Eles estariam carregando nomes importantes do regime nazista, incluindo o ditador Adolf Hitler. Porém, até agora, não havia registros de naufrágios desses submersíveis. A história está prestes a mudar, o jornalista, escritor e pesquisador argentino Abel Basti, de 66 anos.

Como mostra o jornal argentino La Nacion, um submarino naufragado foi descoberto na região de Arenas Verdes e Costa Bonita, em Necochea, na província de Buenos Aires. Trata-se de uma notícia importante para a Argentina, não só por se tratar de uma embarcação de grandes proporções – cerca de 80 m –, que não havia sido registrada até então, mas por confirmar a presença clandestina da Marinha do Terceiro Reich na costa argentina.

Abel Basti é o líder do grupo de exploração Eslabón Perdido, que detectou a posição do misterioso naufrágio a 30 m de profundidade e a apenas quatro quilômetros da costa de Necoche, informa o jornal. Quando essa embarcação foi descoberta em 2021, descobriu-se que não se tratava de um navio e o naufrágio não estava listado no serviço hidrográfico naval da Argentina – ou em qualquer carta náutica ou registro histórico.

Após várias explorações, que incluíam três mergulhadores, análise de imagens obtidas por um veículo submarino operado remotamente (ROV na sigla em inglês) e o trabalho de dois especialistas independentes, Basti confirmou ao La Nacion que se trata de um submarino alemão, ou u-boat (abreviatura de unterseeboot), “do tipo IX com quase 80 m de comprimento”.

Segundo o jornal argentino, Abel Basti vem investigando atividades nazistas na Argentina desde 1994, quando descobriu que o capitão da SS (polícia do estado) e criminoso de guerra, Erich Priebke, vivia em Bariloche há quase 50 anos de forma totalmente impune. “Eu era correspondente da DYN [agência Diário y Notícias] em Bariloche e eles começaram a me pedir textos sobre nazistas”, conta o jornalista e escritor.

 

Só não se sabe ainda qual o modelo de submarino nazista alemão (Foto: YouTube/Abel Basti/Reprodução)

 

Ao longo desse tempo, ele escreveu vários livros sobre a ideia de que Hitler não teria suicidado em seu bunker em Berlim, em 1945, mas fugido para a Argentina, mais precisamente para a região da Patagônia. Além disso, o führer nazista teria desembarcado no continente por meio de um submarino u-boat.

“Em 1945 há relatos de moradores que dizem ter visto desembarques em uma praia de Necochea. A polícia verificou e descobriu pegadas e marcas de pneus do caminhão usado no desembarque. Eles seguiram essas trilhas, mas quando chegaram à porta da estância Moromar [propriedade no lago que leva esse nome], um grupo de estrangeiros os recebe sob a mira de uma arma e os força a voltar. Os policiais denunciaram o ocorrido, mas a ordem superior foi para que ficassem de fora”, diz Abel Basti ao La Nacion.

Essa propriedade em Moromar é muito próxima ao local do naufrágio do submarino e ajudaria a confirmar o desembarque de alemães após a Segunda Guerra. De acordo com o jornalista e pesquisador, após deixar os tripulantes na costa, a embarcação se afastou o suficiente para que os últimos marinheiros pudessem abandoná-la e retornar à praia, não antes de afundá-la.

Basti diz que, apesar do casco estar muito deteriorado, peças-chave ajudaram na identificação do submarino, como o periscópio. Essa descoberta consta em relatório assinado pelos engenheiros navais Juan Martin Canevaro e Andrés Miguel Cuidet, especialistas do grupo Eslabón Perdido, revela o jornal argentino. Eles confirmaram não apenas que os restos não pertenciam a um misterioso navio desconhecido, mas que havia elementos suficientes para associá-lo a um submersível alemão.

Para chegar a essa conclusão, Cuidet e Canevaro analisaram um grande número de fotos e várias horas de vídeos do naufrágio que foram feitos pela Prefeitura Naval da Argentina (autoridade marítima) e pelo Eslabón Perdido.

Após descartar que a possibilidade de ser um navio, os especialistas concluíram que a “zona de dispersão” dos destroços coincide com o tamanho dos submarinos do tipo IX e XXI, que tinham mais de 76 m de comprimento. Os engenheiros navais indicaram que uma parte da estrutura analisada “é compatível com a torre de um u-boat”.

“A nossa descoberta foi inteiramente financiada por ‘pulmões’, por meio de um pequeno barco e três mergulhadores: seguimos as histórias tradicionais de pescadores”, comenta Abel basti ao La Nacion.

Os achados foram analisados pela Liga Naval Italiana, reconhecida internacionalmente por ser especialista em naufrágios de navios e submarinos da Segunda Guerra Mundial. “Eles confirmaram que é um submarino alemão, mas dizem que são necessárias outras investigações para determinar o modelo”, diz o pesquisador argentino.

Agora, resta saber quem estava no submarino que foi deliberadamente afundado na costa argentina logo após a guerra. “Temos o meio de transporte, mas ainda precisamos saber quem estava nele. Os criminosos de guerra chegaram à Argentina em navios e supõe-se que aqueles que vieram em submersíveis eram ainda mais importantes. Essa constatação obriga o estado a reescrever a história e esclarecer a posição da Argentina sobre a questão nazista, porque muda radicalmente tudo o que foi dito até agora", conclui Abel.

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