Cultura

Ex-dirigente da Fifa, Joseph Blatter diz que foi um erro dar uma Copa do Mundo ao Catar

O suíço afirma que o país do oriente Médio é pequeno demais para receber o Mundial da Fifa

Por João Paulo Martins  em 08 de novembro de 2022

Em entrevista a um jornal suíço, Blatter admite que o Catar é “pequeno demais” para receber uma Copa do Mundo (Foto: YouTube/Lance!/Reprodução)

 

O dirigente esportivo suíço Joseph Blatter, de 86 anos, ex-presidente da Fifa, acaba de admitir que a decisão de conceder a Copa do Mundo ao Catar foi um “erro”.

Ele foi presidente da Fifa em 2010, quando seu comitê executivo votou de forma controversa para permitir que o Mundial fosse realizado pela Rússia em 2018 e 2022 pelo Catar este ano.

O país do Oriente Médio vem enfrentando duras críticas por seu tratamento a trabalhadores imigrantes e por suas leis discriminatórias do público LGBTQIA+. Além disso, devido às altas temperaturas registradas no Catar durante o Verão (meio do ano), pela primeira vez na história uma Copa do Mundo deixa de ser realizada entre junho e julho e é adiada para novembro e dezembro.

Somado a isso, a escolha da primeira sede do Mundial em um país árabe foi alvo de ceticismo após vários membros do comitê executivo da Fifa, que votaram em 2010 pela escolha da sede de 2022, terem sido condenados ou indiciados pela justiça.

Joseph Blatter, que afirma que não votou no Catar, foi inocentado de acusações de fraude por um tribunal suíço em julho deste ano, após o pagamento de 1,7 milhão de libras (cerca de R$ 10 milhões) ao ex-presidente da Uefa, o ex-jogador francês Michel Platini, mas continua banido do futebol.

Em entrevista ao jornal suíço Tages-Anzeiger, a primeira desde que foi absolvido das acusações, o ex-dirigente deda Fifa diz que queria entregar as Copas do Mundo de 2018 e 2022 à Rússia e aos Estados Unidos, respectivamente, como um “gesto de paz”, mas foi vencido pelo comitê executivo.

“A escolha do Qatar foi um erro. Na época, concordamos no comitê executivo que a Rússia deveria ficar com a Copa do Mundo de 2018 e os EUA, com a de 2022. Teria sido um gesto de paz se os dois adversários políticos de longa data tivessem sediado o Mundial um após o outro”.

Já sobre a decisão de optar pelo Catar para a Copa deste ano, o suíço é enfático: "É um país muito pequeno. O futebol e a Copa do Mundo são grandes demais para ele".

Questionado se se sentiu responsável pela decisão, Blatter responde: “Para mim está claro: o Catar é um erro. A escolha foi ruim. O que me pergunto é: ‘por que o novo presidente da Fifa [Gianni Infantino] está morando no Catar?’ Ele não pode ser o chefe da organização local da Copa do Mundo. Esse não é o trabalho dele. Existem dois comitês organizadores para isso – um local e outro da Fifa”.

O suíço afirma ainda que, apesar de tudo, está feliz pelo fato de a Copa do Mundo estar acontecendo no país. “Só posso repetir: ‘o prêmio para o Catar foi um erro, e eu era o responsável por isso como presidente na época’. Agora que a Copa do Mundo é iminente, fico feliz que, com algumas exceções, nenhum jogador de futebol boicote o Mundial”.

Ao Tages-Anzeiger, Joseph Blatter diz que não se arrepende da decisão de conceder a Copa do Mundo à Rússia em 2018, mesmo com a à Ucrânia este ano. Ele conta que não está mais em contato com Vladimir Putin e que rejeita o argumento de que a Rússia usou o Mundial da Fifa como uma 'plataforma de propaganda".

“Muitos outros também usam o esporte para fins políticos. Não sou juiz e não quero julgar isso”, completa.

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