Em entrevista a uma rádio suíça, Joseph Blatter critica Copa do Catar e Superliga de clubes

O alemão Joseph Blatter foi presidente da Fifa entre 1998 e 2015. Em entrevista à rádio suíça Europe 1, em Zurique, sede da federação de futebol, o ex-dirigente fala descaradamente sobre as polêmicas que o cercaram durante esses anos, incluindo a Copa do Mundo no Catar. Não deixa nenhum assunto de lado e declara: “[Gianni] Infantino não é um bom presidente da Fifa” e “A Superliga é o fim do futebol”.

Veja os principais temas tratados na entrevista com Blatter:

Futebol atual

“No ano passado, fiquei impressionado com as enormes quantias que foram pagas nos contratos feitos com novos jogadores. Por exemplo, a transferência de [Lionel] Messi para o PSG [Paris Saint-Germain]. É de se perguntar se isso ainda é normal. Mas você pode não controlar o princípio econômico fundamental de oferta e demanda”.

Violência e racismo nos estádios

“Não é só racismo, há a violência que voltou a frequentar os estádios. Tomamos decisões muito difíceis, mas não as aplicamos. Não adianta fechar o estádio por um ou dois jogos, ou impor multas em dinheiro. A única solução é tirar pontos Mas você tem que tirar nove pontos, não dois. Pelo menos seis ou nove pontos, ou eliminar a equipe. Controlar o futebol é de extrema importância”.

Gianni Infantino

“Ele não está fazendo bem o seu trabalho. Quando se tornou presidente da Fifa por meio de meandros incompreensíveis, demitiu 80 pessoas, incluindo 30 diretores. Ele quer deixar Zurique [Infantino mudou-se para o Catar]. Mas Zurique é a sede da Fifa. A sede está na Suíça desde 1932. Organizei quatro ou cinco Copas do Mundo em diferentes países, nunca pensei em morar no país-sede ou na capital para a Copa. O lugar do presidente da Fifa é onde está a sede e ela está em Zurique. É de lá que ele deveria dirigir a Fifa, não de outro lugar. Não posso dizer que seja escandaloso. Mas posso dizer que é incompreensível que ele vá se estabelecer com sua família no Catar. Ele não é um bom presidente da Fifa”.

Copa do Mundo do Catar

“Michel Platini [ex-jogador francês] me disse que foi convidado para uma refeição no Eliseu [em Paris] e que se encontrou com o presidente Nicolas Sarkozy [ex-presidente francês] e o emir do Catar. Eles gentilmente perguntaram se ele poderia apoiar o Catar. Depois veio a votação. Deveria ter anunciado o resultado imediatamente. O resultado poderia ter mudado. O resultado da primeira votação foi a Rússia. E se a Rússia tivesse vencido a candidatura da Inglaterra e principalmente a de Espanha e Portugal, eles não teriam votado no Catar. Mas eles não o fizeram. Nós saberemos. Me arrependi quando anunciei. Então, percebemos que não seria fácil. Não podemos jogar no Catar por causa do clima e porque o país é muito pequeno. A Copa do Mundo com 32 seleções é difícil em um país pequeno. Tive a impressão de que foi uma decisão ruim”.

Copa do Mundo a cada dois anos

“É uma imbecilidade. Eu tenho que me culpar porque, quando fui eleito presidente da Fifa, em uma primeira sessão, disse que poderíamos organizar uma Copa do Mundo a cada dois anos, mas as pessoas ao meu redor me disseram que era viável. Mas, hoje, com a agenda lotada, é burrice. Não podemos, é ruim para o futebol”.

Superliga

“Se isso acontecer, será o fim do futebol. Devemos evitar sacrificar o futebol dos clubes que jogam nas ligas menores. As ligas fechadas são o modelo americano. E meu clube favorito, o Real Madrid, está lá. Acho tudo isso errado. Porque futebol é promoção e rebaixamento. É importante, porque você não perde a esperança de vencer. Em um campeonato fechado você não perde nada, mesmo que seja derrotado. Um campeonato fechado, não".

Ballon D’Or (Bola de Ouro)

“A Ballon D’Or da revista France Football não é mais a Bola de Ouro da Fifa. A Fifa entregou a Bola de Ouro com muita facilidade. Tínhamos feito um contrato para entregar o prêmio em Zurique, na Fifa. Mas Infantino, quando chegou, quis fazer isso em Londres [na Inglaterra]. Então acabou. Poderíamos ter dado a [Lionel] Messi um prêmio de consolação. [Karim] Benzema merecia a Bola de Ouro’.