Ciência

Usando inteligência artificial, cientistas descobrem antibiótico capaz de matar superbactérias

Após a IA analisar milhares de compostos nunca usados contra bactérias resistentes, ela indicou nove que seriam potencialmente eficazes

Por João Paulo Martins  em 26 de maio de 2023

(Fotos: Pixabay)

 

As superbactérias se tornaram uma das principais ameaças á saúde global nos últimos tempos. Agora, cientistas encontraram uma ferramenta inusitada para combater esses perigosos micro-organismos: a inteligência artificial (IA). Em estudo publicado nessa quinta (25/5) na revista científica Nature Chemical Biology, pesquisadores da Universidade McMaster, do Canadá, e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos EUA, desenvolveram um novo antibiótico capaz de matar bactérias resistentes em hospitais, graças à ajuda da IA.

A superbactéria em questão é a Acinetobacter baumannii, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece como uma ameaça “crítica” entre as principais famílias de bactérias que representam a “maior ameaça” à saúde humana. De acordo com a OMS, esse grupo de micro-organismo são capazes de encontrar maneiras de resistir ao tratamento e podem transmitir material genético que permite que novas gerações também se tornem resistentes a medicamentos.

A baumannii representa uma ameaça para hospitais, lares de idosos e pacientes que precisam de ventiladores e cateteres, bem como para aqueles que têm feridas abertas após cirurgias. Ela pode viver por longos períodos no ambiente e em equipamentos e costuma ser transmitida por mãos contaminadas. Além de infecções sanguíneas, a A. baumannii pode causar infecções no trato urinário e nos pulmões.

Como mostra o jornal britânico The Guardian, no estudo recém-divulgado, cientistas usaram um algoritmo de IA para rastrear milhares de moléculas de antibióticos na tentativa de encontrar o que conseguiria combater a superbactéria em questão. Como resultado da triagem feita pelo computador, os pesquisadores identificaram um novo composto, que foi chamado de abaucina.

“Tínhamos um monte de dados que nos diziam quais substância eram capazes de matar bactérias e quais não eram. Meu trabalho era treinar esse modelo e, essencialmente, tudo o que a IA fez foi nos dizer se novas moléculas teriam propriedades antibacterianas ou não”, comenta o pesquisador Gary Liu, da Universidade MacMaster, um dos autores do estudo, citado pelo jornal.

Após treinarem o modelo de IA, apresentaram a ele 6.680 compostos que nunca haviam sido usados contra bactérias. A análise durou uma hora e meia e acabou indicando centenas de substâncias, 240 das quais foram então testadas em laboratório. Segundo o The Guardian, as análises laboratoriais resultaram em nove antibióticos com potencial para matar superbactérias, incluindo a abaucina.

A nova molécula foi então testada na A. baumannii em camundongos com feridas infeccionadas. O resultado foi a supressão da infecção. Ainda são necessárias novas pesquisas antes que o medicamento possa ser usado em pacientes.

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