Ciência

Sabia que é possível detectar uma mentira de forma automática?

Estudo francês descobre que elementos da fala nos ajudam na percepção das intenções de quem conversa conosco

Por João Paulo Martins  em 08 de fevereiro de 2021

(Foto: Pixabay)

Falar de forma mais rápida; dar ênfase no meio da palavra; e usar tom decrescente no final da frase. Isso tudo pode indicar se alguém deseja está sendo confiável e honesto.

Por meio da prosódia, ramo da gramática que se dedica ao estudo dos sons da fala, como acento e entoação, cientistas da Universidade de Sorbonne, na França, realizaram uma série de experimentos para identificar se uma pessoa é honesta e confiante, ou, pelo contrário, desonesta e incerta.

A curiosa pesquisa foi publicada nesta segunda (8/2) na revista científica Nature Communications.

“O sucesso da cooperação humana depende crucialmente de mecanismos que permitam aos indivíduos detectar a falta de confiabilidade de seus colegas […] No estudo, mostramos que as percepções dos ouvintes sobre a certeza e a honestidade de outros oradores em seus discursos são baseadas em uma assinatura prosódica [característica da entonação] comum”, afirmam os cientistas franceses no artigo recém-publicado.

Eles mostram que essa assinatura foi percebida de forma semelhante em vários idiomas (francês, inglês e espanhol) e que é registrada “automaticamente” pelo cérebro. Ou seja, mesmo quando os participantes não julgam a clareza ou honestidade do locutor, o som característico impacta como as palavras são memorizadas.

Avaliando os sons da fala

A prosódia transmite informações sobre o valor de verdade ou certeza de uma frase.

“Usando um método baseado em dados, nós decodificamos separadamente os recursos prosódicos que direcionam as percepções dos ouvintes sobre a certeza e honestidade de um falante em relação ao tom, duração e volume”, contam os pesquisadores da Sorbonne.

Os cientistas descobriram que os julgamentos sobre a intenção do orador dependem de uma assinatura prosódica comum que é percebida independentemente do conhecimento conceitual e da língua nativa dos indivíduos.

“Mostramos que os ouvintes extraem essa assinatura prosódica automaticamente e que isso afeta a maneira como memorizam as palavras faladas. Nossas descobertas lançam luz sobre uma adaptação auditiva única que permite aos ouvintes humanos detectar rapidamente e reagir à falta de confiabilidade durante as interações linguísticas”, completa os pesquisadores no estudo.

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