Ciência
Sabia que é possível detectar uma mentira de forma automática?
Estudo francês descobre que elementos da fala nos ajudam na percepção das intenções de quem conversa conosco
Falar de forma mais rápida; dar ênfase no meio da palavra; e usar tom decrescente no final da frase. Isso tudo pode indicar se alguém deseja está sendo confiável e honesto.
Por meio da prosódia, ramo da gramática que se dedica ao estudo dos sons da fala, como acento e entoação, cientistas da Universidade de Sorbonne, na França, realizaram uma série de experimentos para identificar se uma pessoa é honesta e confiante, ou, pelo contrário, desonesta e incerta.
A curiosa pesquisa foi publicada nesta segunda (8/2) na revista científica Nature Communications.
“O sucesso da cooperação humana depende crucialmente de mecanismos que permitam aos indivíduos detectar a falta de confiabilidade de seus colegas […] No estudo, mostramos que as percepções dos ouvintes sobre a certeza e a honestidade de outros oradores em seus discursos são baseadas em uma assinatura prosódica [característica da entonação] comum”, afirmam os cientistas franceses no artigo recém-publicado.
Eles mostram que essa assinatura foi percebida de forma semelhante em vários idiomas (francês, inglês e espanhol) e que é registrada “automaticamente” pelo cérebro. Ou seja, mesmo quando os participantes não julgam a clareza ou honestidade do locutor, o som característico impacta como as palavras são memorizadas.
Avaliando os sons da fala
A prosódia transmite informações sobre o valor de verdade ou certeza de uma frase.
“Usando um método baseado em dados, nós decodificamos separadamente os recursos prosódicos que direcionam as percepções dos ouvintes sobre a certeza e honestidade de um falante em relação ao tom, duração e volume”, contam os pesquisadores da Sorbonne.
Os cientistas descobriram que os julgamentos sobre a intenção do orador dependem de uma assinatura prosódica comum que é percebida independentemente do conhecimento conceitual e da língua nativa dos indivíduos.
“Mostramos que os ouvintes extraem essa assinatura prosódica automaticamente e que isso afeta a maneira como memorizam as palavras faladas. Nossas descobertas lançam luz sobre uma adaptação auditiva única que permite aos ouvintes humanos detectar rapidamente e reagir à falta de confiabilidade durante as interações linguísticas”, completa os pesquisadores no estudo.