Ciência

Polêmico meteorito descoberto nos anos 1980 não possui sinais de vida primitiva de Marte

Estudo aponta que os sinais supostamente deixados por micro-organismos marcianos no meteorito encontrado em 1984 na Antártida são, na verdade, resultado da erosão da água

Por João Paulo Martins  em 14 de janeiro de 2022

O meteorito marciano Allan Hills 84001 causou polêmica quando um estudo de 1996 disse ter encontrado evidências de vida primitiva nele (Foto: Nasa/Divulgação)

 

O meteorito Allan Hills 84001, de quatro bilhões de anos, originário de Marte, caiu na Terra décadas atrás e, apesar do que se imaginava anteriormente, não contém evidências de vida marciana primitiva, segundo estudo publicado na última quinta (13/1) na revista científica Science.

Em 1996, uma equipe liderada pela Nasa anunciou que compostos orgânicos presentes na rocha espacial pareciam ter sido deixados por criaturas vivas. Outros cientistas se mostraram céticos e a agência espacial foi deixando de lado essa ideia.

No estudo atual, pequenas amostras do meteorito revelaram que os compostos ricos em carbono são, na verdade, o resultado da água, provavelmente salgada, fluindo sobre a rocha por um longo período, informa o jornal britânico The Guardian.

Durante o passado úmido e primitivo de Marte, pelo menos dois impactos ocorreram perto da região onde a rocha se localizava, aquecendo a superfície do planeta, antes que um terceiro impacto lançasse o meteorito para fora do Planeta Vermelho há milhões de anos. A rocha de 2 kg foi encontrada na Antártida em 1984.

 

As marcas presentes no meteorito, parecendo registros de micro-organismos marcianos, na verdade, foram feitas pela água (Foto: Nasa/Divulgação)

 

Os cientistas explicam que a água subterrânea movendo pelas entranhas da rocha, enquanto ainda estava em Marte, formou os minúsculos globos de carbono vistos atualmente. A mesma coisa pode acontecer na Terra e ajuda a explicar a presença de metano na atmosfera de Marte, dizem os pesquisadores, citados pelo jornal britânico.

Mas dois cientistas que participaram do estudo de 1996 discordam das últimas descobertas, chamando-as de “decepcionantes”. “Embora os dados apresentados acrescentem muito ao nosso conhecimento [do meteorito], a interpretação dificilmente é nova, nem é apoiada pela pesquisa”, afirmam Kathie Thomas-Keprta e Simon Clemett, do Johnson Space Center, da Nasa, em Houston (EUA), em comunicado enviado ao The Guardian.

“Especulação sem suporte não faz nada para resolver o enigma em torno da origem da matéria orgânica no meteorito”, acrescentam.

A única maneira de provar se Marte já teve ou ainda tem vida microbiana, de acordo com o estudo recém-divulgado, é trazer amostras para a Terra para análise. O rover (robô) Perseverance, da Nasa, já coletou seis amostras do Planeta Vermelho para trazer para a Terra daqui a 10 anos.

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