Ciência

Neandertais podem ter sido extintos após inversão dos polos magnéticos

O fenômeno de inversão ocorrido há 42.000 anos causou uma drástica mudança climática que extinguiu a megafauna da Austrália

Por João Paulo Martins  em 21 de fevereiro de 2021

Os polos magnéticos da Terra servem de escudo protetor contra as radiações solar e cósmica (Foto: Peter Reid/The University of Edinburgh/Divulgação)

De acordo com estudo publicado na última sexta (19/2) na revista científica Science, há 42.000 anos os polos magnéticos da Terra inverteram, causando grandes mudanças climáticas que encheram os céus de tempestades elétricas, auroras e radiação cósmica.

No artigo, os cientistas até argumentam se essas alterações significativas no clima podem ter tido um papel decisivo na extinção dos neandertais e da gigantesca megafauna que antes perambulava pela Austrália.

Como se sabe, os polos magnéticos podem mudar a cada ano e, com base em registros geológicos, tudo indica que a Terra está “atrasada” para uma possível inversão. A teoria mais aceita é que esse processo seja guiado pelo movimento das “bolhas” de material fundido girando no interior do planeta.

Última inversão ou evento de Laschamps

Uma mudança significativa no campo magnético da Terra ocorreu há 42.000 anos e é conhecida como o evento Laschamps. Quando os polos se inverteram, o campo magnético entrou em colapso temporário e permaneceu enfraquecido por cerca de 1.000 anos.

Para entender como a drástica mudança do magnetismo terrestre afetou a vida no planeta, cientistas de universidades australianas e neozelandesas examinaram anéis de antigas árvores da espécie Kauri na Nova Zelândia, que foram preservadas em sedimentos por mais de 40.000 anos.

Eles encontraram sinais de uma crise ambiental global. Conforme o estudo recém-publicado, os anéis das árvores revelam um aumento substancial nos níveis de radiocarbono atmosférico há 42.000 anos. Provavelmente, isso foi o resultado da perda do campo magnético da Terra, um escudo altamente eficaz contra a radiação cósmica.

A equipe sugere que isso teve um efeito extremamente prejudicial no mundo natural e poderia explicar algumas das principais extinções que ocorreram nessa época.

Extinção após inversão dos polos magnéticos

“Os impactos do evento de Laschamps foram marcantes e globais e podem ter sido fundamentais para nossa história evolutiva. A coincidência entre o momento do Laschamps e a extinção dos neandertais e da megafauna na Austrália é notável e destaca a escala global desse evento”, afirma o pesquisador Chris Fogwill, da Universidade de Keele, na Austrália, um dos autores do estudo, citado pelo site científico IFL Science.

Segundo ele, se um evento semelhante acontecesse hoje, as consequências seriam enormes para a sociedade moderna, incluindo ao efeito nefasto da radiação cósmica no sistema elétrico e nos satélites.

Vale dizer que essa é apenas uma das muitas teorias sobre a extinção dos neandertais. Outros especularam que ela foi resultado da competição com o Homo sapiens (homem moderno), relações consanguíneas, queda nas taxas de fertilidade e outras manifestações da mudança climática.

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