Ciência

Não é ficção: cientistas ressuscitam animal congelado após 24.000 anos

A criatura microscópica, um rotífero bdeloídeo, foi retirada do solo congelado da Sibéria, na Rússia

Por João Paulo Martins  em 07 de junho de 2021

Após 24.000 anos congelado no solo da Sibéria, ao voltar á vida, o rotífero bdeloídeo conseguiu se alimentar e reproduzir (Foto: Michael Plewka/State Gymnasium Gevelsberg/Divulgação)

Em estudo publicado nesta segunda (7/6) no periódico científico Current Biology, cientistas revelam que um animal microscópico foi revivido após adormecer no permafrost (solo congelado) da Sibéria, na Rússia, por 24.000 anos.

Ele é um rotífero bdeloídeo, criatura microscópica aquática com incrível capacidade de sobrevivência, e foi encontrado por pesquisadores no solo siberiano congelado extraído usando uma plataforma de perfuração.

“Nosso estudo é a melhor prova até hoje de que animais multicelulares podem suportar dezenas de milhares de anos em criptobiose, estado em que o metabolismo é interrompido quase completamente”, afirma o pesquisador Stas Malavin, do Instituto de Questões Físico-Químicas e Biológicas de Ciência do Solo, na Rússia, um dos autores do estudo, citado pela emissora americana CNN.

Os cientistas já sabiam que os rotíferos podem sobreviver até 10 anos quando congelados. Mas agora, por meio da datação por radiocarbono, foi possível para determinar que as criaturas recuperadas do permafrost siberiano tinham cerca de 24.000 anos.

Solo congelado preserva muitos organismos

A reportagem da CNN lembra que essa não é a primeira vez que um ser vivo antigo foi ressuscitado de um habitat permanentemente congelado.

Caules de musgo da Antártida foram regenerados com sucesso a partir de uma amostra de 1.000 anos que tinha sido coberta por gelo por cerca de 400 anos, e uma flor campião foi ressuscitada a partir de tecido de semente, provavelmente armazenado por um esquilo do ártico, que foi preservado por 32.000 anos no permafrost.

Mamíferos mortos há muito tempo, mas bem preservados, incluindo ursos de caverna e mamutes lanosos, também já foram desenterrados do solo congelado da Sibéria. Claro que não é possível regenerá-los, ainda que cientistas russos estejam tentando cloná-los usando DNA.

O rotífero bdeloídeo foi o primeiro animal multicelular a ser ressuscitado após tantos anos congelado (Foto: Michael Plewka/State Gymnasium Gevelsberg/Divulgação)

“Quanto mais complexo o organismo, mais difícil é preservá-lo vivo congelado e, para os mamíferos, atualmente não é possível. No entanto, passar de um organismo unicelular para um organismo com intestino e cérebro, embora microscópico, é um grande passo”, comenta Stas Malavin à emissora americana.

Depois que o rotífero descongelou, a criatura foi capaz de se reproduzir, afirmam os pesquisadores no estudo. Os minúsculos invertebrados também conseguiam se alimentar.

Para entender como a criatura sobreviveu em animação suspensa no solo congelado, os cientistas congelaram e descongelaram rotíferos modernos que viviam em regiões de permafrost.

Eles descobriram que as criaturas podiam suportar a formação de cristais de gelo enquanto eram lentamente congeladas. Embora nem todos os animais microscópicos tenham sobrevivido ao processo de congelamento, o estudo sugere que esses animais possuem algum mecanismo que protege suas células e órgãos de danos em temperaturas muito baixas.

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