Ciência

Golfinho solitário “aprende” a falar a língua dos botos na Escócia

Cientistas descobriram que uma fêmea de golfinho-comum-de-bico-curto passou a se comunicar, ou, pelo menos, tentar falar, com botos de água salgada em Firth of Clyde

Por Da Redação  em 27 de março de 2022

Na costa oeste da Escócia está localizada a enseada de Firth of Clyde, que abriga milhares de botos marinhos (Phocoena phocoena) e uma fêmea de golfinho-comum-de-bico-curto (Delphinus delphis) chamada Kylie. Em estudo publicado na revista científica Bioacoustics, em janeiro deste ano, cientistas revelam que o solitário golfinho está se enturmando com os vizinhos, procurando conversar na “língua” deles.

Segundo a revista americana National Geographic, Kylie não é observada com outros golfinhos há pelo menos 14 anos, mas os visitantes da marina às vezes podem ver a fêmea nadando com botos, que são “primos” dela com cerca de dois terços de seu tamanho.

A pesquisa sugere que os laços de Kylie com os botos estão mais próximos do que se imaginava. Enquanto o repertório vocal de um golfinho comum deve incluir uma gama diversificada de cliques, assobios e chamadas pulsantes, a fêmea não assobia. Em vez disso, ela “fala” mais como os botos, que se comunicam usando cliques agudos.

De acordo com a revista americana, o golfinho desgarrado pode estar se comunicando com os botos, ou, pelo menos, tentando. Isso ajuda a entender o universo de interações entre diferentes espécies de cetáceos.

“Claramente, as espécies na natureza interagem muito mais do que pensávamos”, comenta Denise Herzing, especialista em comportamento de golfinhos, citada pela National Geographic.

Anos atrás, o único golfinho residente em Clyde foi encontrado na entrada de um lago chamado Kyles of Bute. Desde então, os moradores passaram a chamá-la de Kylie. Mas ninguém sabe de onde ela veio, ou exatamente por que acabou sozinha, diz o biólogo marinho David Nairn, fundador e diretor da Clyde Porpoise, uma organização local dedicada à pesquisa e proteção de mamíferos marinhos.

A revista salienta que a fêmea de golfinho não é vista há um ano, mas os moradores esperam que ela volte em breve.

Para entender o relacionamento de Kylie com os botos, Nairn usou um hidrofone (microfone aquático) e o instalou atrás de seu veleiro. As gravações dos encontros entre o golfinho e os botos foram realizadas entre 2016 e 2018.

“Ela definitivamente se identifica como um boto”, comenta David Nairn à revista americana.

Enquanto os golfinhos assobiam quase constantemente, os botos se comunicam exclusivamente com os chamados cliques de alta frequência, em torno de 130 kHz (kilohertz).

Enquanto os sons emitidos por Kylie são uma tentativa de comunicação entre espécies, os cientistas acreditam que os botos consigam compreender alguma coisa.

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