Ciência

Filhotes de lobo nunca serão como os cães, afirmam os cientistas

Estudo confirma que os lobinhos não possuem as adaptações cognitivas dos cachorros que os fazem “entender” os humanos

Por João Paulo Martins  em 14 de julho de 2021

(Fotos: Pixabay)

A capacidade dos cães filhotes de entender os gestos humanos pode parecer normal, mas é uma habilidade cognitiva complexa e rara no reino animal. Nossos parentes mais próximos, os chimpanzés, não podem fazer isso. E o parente mais próximo dos cachorros, o lobo, também não consegue, de acordo com estudo publicado na última segunda (12/7) na revista científica Current Biology.

Mais de 14.000 anos de convivência fizeram com que os cães adquirissem habilidades mentais que lhes permitem inferir o que os humanos estão pensando e sentindo em algumas situações.

No estudo recente, foram comparados 44 cãezinhos e 37 filhotes de lobo com idades entre 5 e 18 semanas.

Os testes foram realizados no Centro Científico de Vida Selvagem (Wildlife Science Center), em Minnesota, nos EUA. Os filhotes de lobo foram testados geneticamente para garantir que não possuíam nenhum traço de cachorro.

Os cientistas criaram os lobinhos com muita interação humana. Eles eram alimentados à mão, dormiam nas camas de seus cuidadores todas as noites e recebiam cuidados humanos quase 24 horas por dia, logo após o nascimento. Em contraste, os cachorros viviam com a mãe e os irmãos da mesma ninhada e tinham menos contato humano.

Testando as habilidades dos bichinhos

Em um dos testes, os pesquisadores esconderam usaram duas tigelas, sendo uma contendo uma guloseima, e deram a cada cachorro ou filhote de lobo uma pista para ajudá-los a encontrar a comida.

Em outro momento, os cientistas apontaram e olharam na direção em que a comida estava escondida.

Os resultados foram surpreendentes. Mesmo sem nenhum treinamento específico, os cãezinhos com apenas 8 semanas de idade sabiam onde ir e tinham duas vezes mais chances de acertar do que os filhotes de lobo da mesma idade e que tinham passado mais tempo com os humanos.

Dezessete dos 31 filhotes de cachorro foram consistentemente para a tigela certa. Em contraste, nenhum dos 26 lobinhos criados por pessoas se saiu melhor do que um palpite aleatório. Testes de controle confirmaram que os cachorros não estavam usando o faro para encontrar a guloseima.

Ainda mais impressionante, muitos dos filhotes acertaram na primeira tentativa. Nenhum treinamento foi necessário. Eles simplesmente “entendem”.

Uso diferenciado da habilidade cognitiva

Os cientistas salientam que não se trata de qual espécie é “mais inteligente”. Segundo a pesquisadora Hannah Salomons, da Universidade de Duke (EUA), uma das autoras do estudo, citada pelo site de notícias científicas Phys.org, filhotes de cachorro e de lobo são igualmente hábeis em certos testes de habilidades cognitivas, como memória ou controle do impulso motor, que envolve fazer um desvio em torno de obstáculos transparentes para conseguir comida.

A diferença surge quando se trata de “ler” os humanos.

“Existem muitas maneiras diferentes de ser inteligente. Os animais desenvolvem cognição de uma forma que os ajudará a ter sucesso em qualquer ambiente em que vivam”, comenta a cientista.

Filhotes de cachorro também demonstraram ter 30 vezes mais probabilidade de se aproximar de um estranho do que os lobinhos.

“Com os filhotes de cachorro que trabalhamos, se você entrar no cercado, eles se juntam e querem subir em você e lamber seu rosto, enquanto a maioria dos lobinhos corre para o canto e se esconde”, afirma Hannah Salomons ao Phys.org.

E quando apresentados a um recipiente hermético com comida dentro, os filhotes de lobo geralmente tentavam resolver o problema por conta própria, enquanto os cãezinhos passavam mais tempo recorrendo às pessoas em busca de ajuda.

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