Ciência
Existe um bichinho minúsculo que faz sexo em nosso rosto e que corre risco de extinção
O ácaro da espécie Demodex folicularum, que vive em nossos poros, se tornou 100% dependente dos humanos e do nosso destino
Os ácaros, aracnídeos microscópicos que vivem nos poros de nossa pele, fazem sexo e se reproduzem nela, podem estar fadados à extinção, segundo cientistas que analisaram o DNA da espécie Demodex follicularum. Os resultados constam de estudo publicado na última terça (21/6), na revista científica Molecular Biology and Evolution.
Como mostra a emissora britânica Sky News, mais de 90% das pessoas possuem os ácaros de 0,3 mm de comprimento nas dobras oleosas do rosto, a maioria vivendo nos poros próximos ao nariz e aos cílios.
O Demodex follicularum passa a vida toda em nossos folículos. Durante o dia eles se alimentam das secreções oleosas da pele e, à noite, saem dos poros para encontrar parceiros e novos folículos para fazerem sexo e botar os ovos.
Antes que pergunte: não, adianta lavar o rosto para se desfazer desses seres microscópicos. Nós carregamos os ácaros desde recém-nascidos. Eles são passados de mãe para filho durante a amamentação e vivem muito profundamente nos poros para serem lavados. Além disso, precisamos deles, revela a pesquisadora Alejandra Perotti, da Universidade de Reading, no Reino Unido, uma das autoras do estudo, citada pela Sky News.
“Devemos amá-los porque são os únicos animais que vivem em nosso corpo a vida inteira e devemos apreciá-los porque limpam nossos poros. Além disso, são fofos”, diz a cientista.
Talvez nem todos concordem. Quando visualizado pelo microscópio, o Demodex follicularum se mostra um bicho comprido, com quatro pares de pernas curtas, cada uma com um par de garras. Além disso, ele se assemelha bastante a um verme, apesar de ser aracnídeo (“parente” das aranhas e escorpiões).
Análise de DNA
Na pesquisa recém-publicada, os cientistas analisaram o genoma desses ácaros e descobriram que ele possuem o menor número de genes funcionais entre os artrópodes (insetos, aracnídeos e crustáceos).
O Demodex se tornou tão dependente de seu hospedeiro humano que o DNA dele foi reduzido de tal forma que só manteve os genes essenciais para a sobrevivência, revela a Sky News.
O estudo descobriu que o gene que normalmente regula a vigília e o sono em artrópodes foi perdido. Em vez disso, o organismo detecta alterações nos níveis do hormônio melatonina nas secreções da nossa pele. Com isso, ele sai à noite, quando dormimos, e volta para casa quando acordamos.
Eles também perderam o gene que protege seus corpos da radiação ultravioleta do Sol, afinal, só saem de “casa” no anoitecer. A genética fez até com que seus corpos se tornassem minimalistas, com cada perna possuindo apenas uma célula muscular.
A evolução fez com que o Demodex follicularum se tornasse tão ligado aos humanos que a espécie está restes a deixar de ser um parasita para se tornar um simbionte interno.
Segundo a emissora britânica, essa dependência total pode fazer com que o ácaro seja extinto quando os humanos desaparecerem ou caso haja uma mudança drástica em nossa pele (habitat dele).
Antigamente, acreditava-se que o Demodex era a causa de doenças comuns de pele, mas em pessoas saudáveis, a evidência é que essa espécie realmente ajuda a prevenir problemas como a acne, desbloqueando os poros, afirmam os cientistas no estudo.