Ciência

Enxames de abelhas podem ser capazes de alterar o clima local, diz estudo

Eletricidade gerada pelos insetos teria um efeito significativo na atmosfera onde se encontram. Entenda!

Por João Paulo Martins  em 25 de outubro de 2022

(Foto: Pixabay)

 

Enxames de abelhas produzem tanta eletricidade que podem afetar o clima local, sugere estudo publicado no período científico iScience na última segunda (24/10).

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores mediram os campos elétricos em torno de colmeias das abelhas africanizadas (Apis mellifera). Segundo o site americano Live Science,  esses insetos podem produzir tanta eletricidade atmosférica quanto uma tempestade, o que desempenharia um papel importante na circulação da poeira, gerando padrões climáticos imprevisíveis.

Os minúsculos corpos das abelhas podem adquirir carga positiva enquanto se alimentam – seja pelo atrito das moléculas de ar contra suas asas que batem rapidamente (mais de 230 vezes por segundo) ou pelo pouso em superfícies eletricamente carregadas. Mas os efeitos dessas cargas minúsculas eram considerados em pequena escala. 

“Só recentemente descobrimos que a Biologia e os campos elétricos estáticos estão intimamente ligados e que existem muitas conexões até então desconhecidas que podem ocorrer em diferentes escalas espaciais, desde micróbios no solo e interações planta-polinizador até enxames de insetos e o circuito elétrico global”, comenta o biólogo Ellard Hunting, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, um dos autores do estudo, em entrevista ao Live Science.

A eletricidade estática surge quando saliências e buracos microscópicos em duas superfícies entram em contato, causando atrito. Isso faz com que os elétrons, que são carregados negativamente, saltem de uma superfície para outra, deixando um lado carregado positivamente e o outro, negativamente. A transferência através das duas superfícies ionizadas estabelece uma diferença de voltagem, ou gradiente de potencial, que permite as trocas das cargas.

Esse gradiente de potencial eletrostático – responsável pelo choque em nossa mão quando tocamos uma maçaneta em dias muito secos – também é capaz de carregar as nuvens e gerar raios devido à fricção do gelo.

No caso dos insetos, e eletrostática permite, por exemplo, que as abelhas atraiam pólen e que as aranhas a teçam teias carregadas negativamente para capturar presas carregadas positivamente.

 

Como foi o estudo atual

 

Para testar se as abelhas produzem mudanças consideráveis ​​na eletricidade da nossa atmosfera, os pesquisadores colocaram um monitor de campo elétrico e uma câmera perto de várias colônias de abelhas. Quando os insetos voavam durante três minutos, os cientistas descobriram que o gradiente potencial acima das colmeias aumentou para 100 volts por metro. Em outros momentos, o enxame foi capaz de gerar até 1.000 volts por metro, tornando a densidade de carga das abelhas cerca de seis vezes maior que de  uma tempestade de poeira eletrificada e oito vezes maior que uma nuvem de chuva.

Os pesquisadores também descobriram que nuvens de insetos mais densas significavam campos elétricos maiores, como de gafanhotos e borboletas.

Os gafanhotos muitas vezes formam nuvens em “escala bíblica”, afirmam os cientistas, citados pelo Live Science, podendo gerar aglomerações espessas de 1.191 km², com até 80 milhões de gafanhotos para cada 1,3 km². O modelo matemático previu que o efeito dessa nuvem de gafanhotos no campo elétrico atmosférico pode ser muito significativo, gerando densidades de carga elétrica semelhantes às das nuvens de tempestades.

De qualquer forma, os pesquisadores dizem que é improvável que os insetos sozinhos sejam responsáveis por tempestades na Terra, mas ainda que esses gradientes potenciais não sejam capazes de produzir raios, podem ter outros efeitos no clima global. Campos elétricos na atmosfera podem ionizar partículas de poeira e poluentes, alterando o movimento deles de forma imprevisível.

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