Ciência

Em breve, gatos poderão ajudar na solução de crimes domésticos, mas não como "testemunhas"

Cientistas descobrem que felinos podem carregar DNA humano suficiente para ajudar nas investigações forenses

Por João Paulo Martins  em 03 de novembro de 2022

(Foto: Freepik)

 

Um estudo publicado no início de outubro na revista científica Forensic Science International: Genetics Supplement Series revela que os gatos de estimação podem ser uma importante fonte evidência para crimes cometidos dentro das casas.

Segundo o site americano Science Alert, a pele do felino doméstico pode guardar quantidade suficiente de DNA das pessoas que estiveram próximas a ele e, assim, ajudar nas investigações policiais – não podem ser interrogados, mas teriam como levar à identificação do (s) autor (es) do crime.

O estudo atual é o primeiro a examinar o papel dos animais domésticos na transferência de DNA, então há muito mais trabalho a ser feito. Ainda assim, ele representa um avanço em relação à coleta de evidências forenses.

“A coleta de DNA humano precisa se tornar mais comum nas investigações de cenas de crime, mas há uma falta de dados sobre animais de companhia, como gatos e cães, e a relação deles com a transferência de DNA humano. Esses animais de companhia podem ser muito relevantes na identificação da presença e das atividades dos habitantes da casa ou de qualquer visitante recente do local", comenta a cientista forense Heidi Monkman, da Universidade Flinders, na Austrália, uma das autoras do estudo, citada pelo site americano.

Monkman e sua colega de universidade, Mariya Goray, uma experiente investigadora de cena de crime, se uniram ao cientista forense Roland van Oorschot, do Departamento de Serviços Forenses da polícia do estado australiano de Victoria para ver se poderiam extrair vestígios úteis de DNA humano nos gatos de estimação.

Os cientistas analisaram 20 gatos que pertenciam a 15 famílias. Nas casas dos participantes do estudo, os pesquisadores pegaram duas amostras do pelo do lado direito de cada felino e de DNA da maioria dos humanos envolvidos com os pets do estudo – apenas uma criança não foi avaliada. Além disso, os tutores e demais ocupantes dos domicílios preencheram questionários sobre o comportamento e os hábitos dos gatos, incluindo quantas vezes o bichano foi tocado e por quem.

Segundo o Science Alert, níveis detectáveis ​​de DNA foram encontrados em 80% das amostras retiradas dos pets. Não houve diferença significativa entre a quantidade de material genético e o tempo gasto desde o último contato do gato com um humano. O tamanho do pelo dos animais também não afetou os resultados.

A equipe conseguiu gerar perfis genéticos de 70% das amostras retiradas dos felinos, que poderiam ajudar a ligá-los a um humano. A maior parte do DNA era de pessoas da própria casa, mas em seis dos animais foram encontrados apenas material genético de pessoas desconhecidas. Dois desses gatos passaram muito tempo na cama da criança cujo DNA não foi analisado, o que poderia explicar alguns dos resultados "misteriosos".

A origem dos materiais genéticos não identificados nos outros quatro pets se manteve desconhecida. Nenhum dos domicílios havia recebido visitas, pelo menos, dois dias antes da retirada das amostras, informa o site americano.

Um caso foi particularmente interessante: em uma residência com dois gatos e dois moradores, o sphynx (que é sem pelo) carregava DNA de um terceiro humano desconhecido, enquanto o ragdoll (pelo curto), não. O curioso é que esses dois felinos interagiram igualmente com os humanos da casa, de acordo com o Science Alert. Uma explicação seria o transporte direto do DNA por alguém que apenas tocou as costas do bichano, ou caso o gato tenha roçado em uma superfície “contaminada”. O material genético também pode ter permanecido no corpo do animal desde a última vez que teve contato com um visitante.

“Mais pesquisas são necessárias sobre a transferência de DNA entre humanos e gatos, e a persistência do DNA humano nos felinos e o que pode influenciar os níveis variados de material genético encontrados em gatos, como hábitos comportamentais e status de descamação dos donos”, afirmam os cientistas no estudo recente.

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