Ciência
Cientistas usam celulose para criar bactericida com 90% de eficiência
Estudo cria nanocristais capazes de revestir superfícies e evitar proliferação da bactéria E. coli, que pode causar doenças
Em estudo publicado em fevereiro no periódico científico ACS Sustainable Chemistry & Engineering, pesquisadores revestiram superfícies com nanocristais de celulose e foram capazes de inativar até 90% da bactéria Escherichia coli (E. coli), que vive em nosso intestino mas pode ser nociva, especialmente se estiver presente em alimentos.
Vale dizer que pesquisas anteriores já haviam demonstrado esse potencial antibacteriano, mas os motivos para isso ainda não eram claros.
“O mecanismo de toxicidade proposto para o material é o contato físico com o micro-organismo. Enquanto a maioria das abordagens se baseia no uso de compostos químicos para interrupção de processos bioquímicos nas bactérias, os nanocristais de celulose atuam pela promoção de um estresse físico nesses organismos”, explica o pesquisador Victor Teixeira Noronha, da Universidade Federal do Ceará, um dos autores do estudo, citado pelo site da instituição de ensino.
Portanto, revestir materiais com as nanopartículas podem inativar bactérias porque o material se assemelha a agulhas e perfuram a membrana celular do micróbio. Ao ocorrer a perfuração, o micro-organismo perde sua capa de gordura, que o protege de danos e funciona como barreira.
O estudo colocou bactérias E. coli em contato com uma superfície revestida de nanocristais de celulose por três horas. Em seguida, realizaram a contagem de células bacterianas que aderiram a essa superfície. Como controle, a mesma experiência foi realizada numa superfície sem revestimento.
Na comparação entre os materiais, os cientistas encontraram uma diferença de 90% na taxa de contaminação. A concentração de nanocristais também fez diferença.
Uso da celulose
De acordo com o estudo, a celulose foi escolhida por ser abundante na natureza, estando presente nas células das plantas, incluindo folhas, fibras e madeira, o que facilita a produção dos nanocristais.
Outras alternativas de revestimentos antibacterianos já haviam sido testadas, segundo os pesquisadores, como polímeros feitos de materiais chamados zwitterion (com amônia), nanomateriais de óxido de grafeno e de prata, mas apresentavam desvantagens, seja no próprio uso, seja nos riscos que traziam para o meio ambiente.
“Estudos com a incorporação de outros materiais aos nanocristais, visando melhorar ainda mais as propriedades antibacterianas, também estão sendo realizados. A intenção para análises futuras é também utilizar bactérias mais comumente presentes nesses sistemas de filtração e dessalinização e não somente bactérias-modelo”, comenta Victor Noronha, citado pelo site da Universidade Federal do Ceará.
(com Agência UFC)