Ciência
Cientistas treinam computador para identificar zoonoses
A partir de dados de milhares de vírus, inteligência artificial apresentou eficácia de 70% para identificar patógenos capazes de infectar humanos a partir de animais
Em estudo inovador, cientistas usaram inteligência artificial (IA) para determinar qual a chance de um vírus causar uma zoonose, ou seja, infectar humanos a partir de animais.
Publicada na última terça (28/9) na revista científica PLoS Biology, a pesquisa realizada pela Universidade de Glasgow, no Reino Unido, desenvolveu um modelo genômico computadorizado que pode ser capaz de “prever retrospectivamente ou prospectivamente a probabilidade de os vírus infectarem humanos”, informa a emissora americana Fox News.
A equipe usou como treinamento da IA um conjunto de dados de DNA e RNA de 861 espécies de vírus que causam zoonoses conhecidas, abrangendo 36 famílias virais.
Eles classificaram cada vírus segundo a capacidade de infectar humanos e, assim, treinaram o computador para avaliar os micro-organismos patogênicos segundo essa regra.
As previsões da inteligência artificial identificaram corretamente quase 72% dos vírus capazes de causar infecções em humanos, embora o desempenho varie entre as famílias virais, revela a Fox News.
Em seguida, os cientistas testaram vários modelos com a IA para encontrar o de melhor desempenho, que foi usado para classificar o potencial de zoonose de outras 758 espécies de vírus – e 38 famílias virais. Essas não foram usadas no “treinamento” da máquina.
Além disso, o estudo avaliou outro conjunto de 645 vírus associados a animais (diferentes dos usados no teste da IA) e os modelos previram um alto risco de transformação em zoonoses nos patógenos associados a primatas não humanos que são geneticamente semelhantes à nossa espécie.
“Tomados em conjunto, nossos resultados são consistentes com a expectativa de que a proximidade genética de primatas não humanos pode facilitar o compartilhamento de vírus conosco […] No entanto, amplas diferenças entre outros grupos de animais parecem ter menos influência sobre o potencial de zoonose do que as características do vírus”, afirmam os autores no artigo recém-divulgado, citados pela emissora americana.
No total, 70,8% dos vírus avaliados pela inteligência artificial foram corretamente identificados como tendo potencial alto ou muito alto para infectar humanos.