Ciência
Cientistas sugerem criar um "escudo" de poeira lunar em volta da Terra para reduzir o aquecimento global
A ideia, que parece ficção científica, acaba de ser publicada e diz que é mais barato e prático retirar poeira do solo da Lua e jogar na órbita terrestre
Em estudo publicado dia 8 de fevereiro na revista científica PLOS Climate, pesquisadores sugerem que uma forma de reduzir o aquecimento global na Terra seria lançar nuvens de poeira lunar no espaço, para que a “cortina” formada desvie os raios solares, resfriando nosso planeta.
O conceito aparentemente bizarro envolve a criação de um “escudo” no espaço, extraindo da Lua milhões de toneladas de poeira e as jogando para um ponto no espaço a cerca de 1,6 milhão de km da Terra, onde os grãos flutuantes ajudariam a bloquear parcialmente a entrada da luz solar em nossa atmosfera.
“Uma parte realmente empolgante do nosso estudo foi a constatação de que os grãos naturais de poeira lunar têm o tamanho e a composição certos para dispersar, com eficiência, a luz solar direcionada à Terra”, comenta o astrofísico Ben Bromley, da Universidade de Utah, nos EUA, principal autor do estudo, citado pelo jornal britânico The Guardian.
Ele lembra que é preciso muito menos energia para retirar e lançar poeira da superfície lunar.
Segundo o jornal, os cientistas testaram vários materiais, como carvão e sal marinho, que poderiam impedir em até 2% a radiação solar se fossem lançados ao espaço. Por fim, os pesquisadores descobriram que a melhor opção é a poeira encontrada na Lua, embora milhões de toneladas tivessem que ser extraídas, peneiradas e carregadas em um dispositivo (como um canhão eletromagnético) para serem lançadas no entorno da Terra anualmente, para manter o escudo funcionando adequadamente. Sem isso, correríamos o risco do chamado “choque de terminação”, no qual o resfriamento temporário é interrompido abruptamente e o mundo é deixado para aquecer rapidamente.
Ao The Guardian, Ben Bromley insiste que a ideia que parece ficção científica não substitui a necessidade básica de reduzir as emissões de gases do efeito estufa. “Nada deve nos distrair da redução das emissões de gases de efeito estufa aqui na Terra […] Devemos explorar todas as possibilidades, caso precisemos de mais tempo para fazer o trabalho aqui em casa”.
Quem não concorda com a ideia do “escudo” feito de poeira é Ted Parson, especialista em direito ambiental da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Ao jornal britânico, ele afirma que a proposta é “uma especulação divertida e cientificamente interessante” que dificilmente seria colocada em prática, em parte devido ao custo e à falta de controle em comparação com as opções de engenharia geológica existentes na Terra.
“Parece haver um aumento de interesse em esquemas de engenharia geológica baseados no espaço. Eles foram descartados há tempos por serem impraticáveis devido a considerações técnicas e de custo, mas minha impressão é que a redução contínua dos custos de lançamento está despertando o interesse das pessoas e ideias estranhas estão surgindo”, comenta Parson.
Mas os opositores desses propostas, a serem implementadas na Terra ou no espaço, argumentam que é uma distração inútil e potencialmente perigosa à necessidade urgente de a humanidade deixar de queimar combustíveis fósseis.