Ciência

Cientistas descobrem como Titã, maior lua de Saturno, possui paisagens parecidas com as da Terra

Apesar de diferenças, como metano líquido no lugar de água,, o satélite natural do planeta gigante gasoso gera sedimentos da mesma forma que a Terra

Por João Paulo Martins  em 02 de maio de 2022

A fascinante lua Tiã possui estruturas geológicas parecidas com as da Terra (Foto: Nasa/JPL-Caltech/Divulgação)

 

Cientistas acreditam que a superfície da lua Titã, de Saturno, se parece um pouco com a Terra. A descoberta foi publicada na revista científica Geophysical Research Letters em 1º de abril.

O maior satélite natural do planeta gigante gasoso apresenta algumas paisagens muito parecidas com as da Terra: lagos e rios, cânions labirínticos e dunas de areia macia. No entanto, essas formações geológicas em Titã são feitas de materiais totalmente diferentes, explica o site americano de notícias astronômicas Space. Por exemplo, em vez de água, é metano líquido que flui pelos rios. As areias que formam as dunas também são bem distintas, sendo constituídas de hidrocarbonetos.

Durante anos, os cientistas ficaram perplexos com a forma como essas paisagens surgiram, já que a composição delas é diferente das que encontramos na Terra. Mas agora eles chegaram a uma teoria bastante plausível.

Como os sedimentos de Titã são teoricamente feitos de compostos orgânicos sólidos, eles devem ser muito mais frágeis do que os de silicato encontrados em nosso planeta, explica o Space. Assim, o vento de nitrogênio e o metano líquido devem triturar os sedimentos de Titã, transformando-os em poeira fina, que seria incapaz de suportar estruturas geológicas tão variadas.

No estudo atual, pesquisadores analisaram um tipo de sedimento chamado ooide, que pode ser encontrado na Terra e tem uma composição semelhante à de Titã. Esse tipo de material é comum em águas tropicais e formam grãos muito finos, que se acumulam por meio de precipitação química e erodem no mar. Como resultado, mantêm um tamanho específico e constante.

Os pesquisadores acreditam que algo semelhante pode estar acontecendo em Titã. “Nós levantamos a hipótese de que a sinterização, que envolve grãos se fundindo em uma única peça, poderia contrabalançar a abrasão quando os ventos os transportam”, afirma o pesquisador Mathieu Lapôtre, da Universidade de Stanford, nos EUA, um dos autores do estudo, citado pelo site especializado.

Após analisar dados atmosféricos de Titã registrados pela missão Cassini (1997-2017), da Nasa, foi possível determinar como esses sedimentos teriam adquirido características geológicas tão diferentes ao redor do satélite natural.

Como mostra o Space, os cientistas descobriram que os ventos eram mais comuns ao redor do equador da lua, o que criava condições ideais para o desenvolvimento das dunas. Em outros lugares, no entanto, a equipe suspeita que os ventos mais baixos podem permitir a formação de grãos mais grossos e, consequentemente, de rochas sedimentares mais sólidas. A partir daí, o vento pode erodir a rocha mais dura em sedimentos mais finos, assim como acontece na Terra.

Além disso, como Titã é conhecida por ser o único corpo celeste em nosso Sistema Solar, além da Terra, a ter um ciclo sazonal de transporte de líquidos, os pesquisadores levantaram a hipótese de que o movimento do metano líquido provavelmente também contribui para a erosão e o desenvolvimento de sedimentos.

“Estamos mostrando que em Titã, assim como na Terra e como costumava ser em Marte, temos um ciclo sedimentar ativo que pode explicar a distribuição latitudinal das paisagens por meio de abrasão episódica e sinterização impulsionada pelas estações. É muito fascinante pensar em como existe esse mundo alternativo tão distante, onde as coisas são tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão semelhantes”, comenta Mathieu Lapôtre ao Space.

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