Ciência

Cientistas descobrem buraco negro inédito com órbita torta

O curioso corpo celeste fica situado a 10.000 anos-luz da Terra e está num sistema formado por uma estrela

Por João Paulo Martins  em 26 de fevereiro de 2022

Impressão artística do sistema binário MAXI J1820+070 contendo um buraco negro (pequeno ponto preto no centro do disco gasoso) e uma estrela companheira. O jato liberado ao longo do eixo de rotação do buraco negro está fortemente desalinhado com sua órbita (Foto: R. Hynes/Divulgação)

 

Estudo publicado na última quinta (24/2) na renomada revista científica Science, cientistas revelam a descoberta de um buraco negro “torto” girando em torno de um eixo desalinhado em nossa galáxia. Ele desafia as teorias conhecidas de formação desses objetos espaciais.

O buraco negro e sua estrela companheira formam um sistema chamado MAXI J1820+070, que fica a cerca de 10.000 anos-luz da Terra. Ele foi identificado pela primeira vez em 2018, pelo Observatório de Raios-X Chandra, da Nasa, que fica na Universidade de Harvard (EUA).

Mas observações feitas pelo telescópio Nordic Optical Telescope, nas Ilhas Canárias, na Espanha, revelaram que o buraco negro se comporta de maneiras que desafiam as expectativas dos astrônomos.

Ao estudar a orientação dos jatos de matéria ionizada emitidos pelos polos do objeto espacial, o astrônomo Juri Poutanen, da Universidade de Turku, na Finlândia, descobriu que o buraco negro gira em torno de um eixo inclinado em pelo menos 40º em direção ao plano, segundo o site americano de notícias astronômicas Space.

 

(Foto: R. Hynes/Divulgação)

 

O objeto orbita a estrela companheira no maior desalinhamento já relatado pela ciência, informam os pesquisadores.

“Observamos o binário MAXI J1820 + 070 com um polarímetro óptico de alta precisão. Usando esses dados, determinamos o ângulo de posição da órbita binária no céu. A orientação de rotação do buraco negro pode ser obtida a partir de observações de rádio e raios-X dos jatos relativísticos observados anteriormente no sistema”, comenta Poutanen ao site especializado.

Ao combinar os dados obtidos pelo Nordic Optical Telescope, os cientistas conseguiram determinar o ângulo entre o eixo da órbita binária e a rotação do buraco negro. Modelos teóricos esperam que sistemas binários, como o MAXI J1820 + 070, girem em torno de eixos alinhados perpendiculares ao plano orbital compartilhado.

Na observações de 2018, os astrofísicos acreditavam que os eixos pudessem estar apenas “lateralmente” desalinhados. Porém, o mistério é saber o que causou o desalinhamento. De acordo com o Space, ao contrário dos modelos atuais de formação de buracos negros após explosões de supernovas, o que existe em MAXI J1820+070 deve ter recebido um “chute” durante a explosão que lhe deu origem.

Os autores acham improvável que esse desalinhamento pudesse surgir em um estágio posterior, pois o acréscimo de material entre dois corpos de um sistema binário e as forças gravitacionais entre eles “sempre aproximam os eixos”, afirma o estudo recém-publicado.

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