Ciência

Cientistas confirmam que ter filho realmente pode alterar o corpo da mãe

No estudo realizado com primatas, os pesquisadores encontraram mudanças nos ossos das macacas rhesus após terem filhotes

Por João Paulo Martins  em 16 de novembro de 2022

(Foto: Freepik)

 

Quem nunca ouviu uma mãe dizer que o corpo dela mudou após o nascimento do filho? Um estudo publicado no começo de novembro na revista científica PLOS One revela que a gravidez pode deixar marcas permanentes na estrutura óssea das macacas rhesus (Macaca mulatta).

Após o nascimento do filhote, a macaca apresenta concentrações significativamente mais baixas de cálcio, fósforo e magnésio em seus ossos em comparação com as que não passaram pela gravidez, informa o site americano Science Alert.

Embora os cientistas não tenham analisado os efeitos em humanas, as descobertas sugerem que os principais eventos da vida podem deixar uma assinatura nos tecidos esqueléticos dos primatas em geral.

Muita gente acha que os ossos são como pedras, mas, na prática, eles são surpreendentemente dinâmicos. O esqueleto cresce gradualmente ao longo da vida e as flutuações anuais no crescimento geralmente são afetadas por fatores ligados ao estilo de vida.

Como lembra o site americano, a densidade óssea pode ser perdida com a idade, especialmente após a menopausa, mas doenças, dieta, clima e gravidez podem deixar um registro permanente em tecidos calcificados que seriam passíveis de identificação até após a morte.

Evidências sugerem que, durante a gravidez, o corpo da mulher poderia extrair cálcio dos ossos, quando os níveis disponíveis no organismo não são suficientes para alimentar o bebê. Por isso, haveria redução na massa, composição e densidade do esqueleto durante a amamentação, explica o Science Alert.

Na lactação, os ossos da mãe seriam “reabsorvidos” na corrente sanguínea para produzir leite rico em cálcio. Mais tarde, os minerais perdidos seriam restaurados naturalmente, mas mesmo assim, pode haver uma maneira de os cientistas perceberem esse “lapso momentâneo”.

“Nossa pesquisa mostra que, mesmo antes do fim da fertilidade, o esqueleto responde dinamicamente às mudanças no estado reprodutivo. Além disso, nossas descobertas reafirmam o impacto significativo que o parto tem no organismo feminino – simplesmente, a evidência da reprodução está ‘escrita nos ossos’ por toda a vida”, comenta a antropóloga Paola Cerrito, da Universidade de Nova Iorque, nos EUA, uma das autoras do estudo, citada pelo site americano.

A pesquisa recém-divulgada analisou cadáveres de sete macacos rhesus que morreram de forma natural, sendo quatro fêmeas e duas que tiveram filhotes. Foram investigados os ossos do fêmur (coxa), que mostraram mudanças que só poderiam ser explicadas pela gravidez e lactação.

Em comparação com machos e fêmeas que não reproduziram, as duas macacas que se tornaram mãe mostraram uma composição óssea relativamente diferente, incluindo menor teor de cálcio, fósforo e magnésio, diz o Science Alert.

Os autores lembram que mais pesquisas são necessárias, de preferência usando populações de primatas selvagens, para ver se encontram o mesmo efeito.

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