Ciência

Cientistas afirmam que terapia genética pode tratar daltonismo em adolescentes

No estudo recém-divulgado, ao menos dois jovens recuperaram as funções dos cones presentes na retina, responsáveis pelo reconhecimento das cores

Por João Paulo Martins  em 24 de agosto de 2022

(Foto: Freepik)

 

Um estudo publicado nesta quarta (24/8) na revista científica Brain revela que, por meio de terapia genética, pode ser possível restaurar a função dos receptores de cor localizados na retina em crianças que nasceram daltônicas.

As descobertas dão esperança de que o tratamento possa ativar as vias de comunicação visual anteriormente inativas entre a retina e o cérebro, aproveitando a natureza mutável do cérebro adolescente em desenvolvimento.

Como mostra o site americano EurekAlert, crianças com acromatopsia, problema genético que afeta as células cone, que junto com os bastonetes, são fotorreceptores presentes nos olhos e responsáveis pela percepção de cor. As pessoas com acromatopsia são completamente daltônicas, enquanto também têm uma visão geral muito ruim e sofrem de fotofobia.

Cientistas já sabiam que nos daltônicos, as células cone existem, mas não enviam sinais para o cérebro, por isso têm procurado alguma forma de ativá-las.

No estudo atual, foram analisados quatro jovens com acromatopsia com idades entre 10 e 15 anos. Os pesquisadores usaram terapias genéticas direcionadas a genes específicos conhecidos por estarem associados à acromatopsia. A ideia era saber se o tratamento era seguro, além de testar a melhoria da visão. Os resultados ainda não foram totalmente compilados, portanto, a eficácia geral ainda precisa ser determinada, informa o EurekAlert.

Cada uma das quatro crianças foi tratada com terapia genética em um olho, permitindo que os médicos comparassem a eficácia da terapia no olho não tratado. Após de seis a 14 meses de tratamento, em dois adolescentes foi registrada forte evidência de sinais no córtex visual do cérebro que seriam provenientes dos cones no olho tratado.

Antes da terapia genética, segundo o site americano, os pacientes não apresentavam evidências de função dos cones. Após o tratamento, a visão deles se assemelhava à dos participantes do grupo de controle, que enxergavam normalmente.

Todos os jovens realizaram teste psicofísico da função dos cones, que avalia a capacidade dos olhos de distinguir entre diferentes níveis de contraste. Isso mostrou que havia uma diferença na visão das duas crianças cujos olhos tratados apresentaram melhora.

Ainda assim, de acordo com o EurekAlert, os pesquisadores dizem que não podem confirmar a ineficácia da terapia nos outros dois participantes, nem se algum efeito do tratamento pode não ter sido detectado pelos testes.

“Em nossos ensaios, estamos testando se fornecer terapia genética na juventude pode ser mais eficaz enquanto os circuitos neurais ainda estão se desenvolvendo. Nossas descobertas demonstram plasticidade neural sem precedentes, oferecendo esperança de que os tratamentos possam ativar funções visuais usando vias de sinalização que estão inativas há anos”, explica o pesquisador Michel Michaelides, da Universidade College de Londres, no Reino Unido, um dos autores do estudo, citado pelo site americano.

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