Ciência
Cientistas afirmam que experiência de quase morte não é alucinação ou “viagem psicodélica”
Estudo recém-publicado analisa os efeitos biológicos no cérebro de pacientes durante o óbito
Estar num túnel comprido com uma luz forte no final ou receber a visita de parentes que já faleceram. Esses dois cenários fazem parte da chamada experiência de quase morte, relatada por pacientes que ficaram “mortos” por longos períodos até serem ressuscitados. Agora, um estudo inédito publicado em fevereiro no periódico científico Annals of the New York Academy of Sciences, traz a primeira análise biológica da morte.
“Parada cardíaca não é ataque cardíaco. Ela representa o estágio final de uma doença ou evento que causa a morte de uma pessoa. O advento da ressuscitação cardiopulmonar nos mostrou que a morte não é um estado absoluto, mas sim um processo que pode ser revertido em algumas pessoas mesmo depois de iniciado”, afirma o pesquisador Sam Parnia, da Faculdade de Medicina Grossman, da Universidade de Nova Iorque (EUA), principal autor do estudo, citado pelo site americano IFL Science.
Segundo os pesquisadores, as evidências sugerem que nem os processos fisiológicos nem cognitivos terminam no “ponto da morte” e, embora estudos científicos até agora não tenham sido capazes de provar a realidade das experiências de quase morte, também não conseguiram refutá-las.
Curiosamente, essas experiências costumam ter os mesmos temas e lógicas narrativas em diferentes partes do mundo. De um modo geral, o paciente que passa pela quase morte primeiro se sente separado do corpo, como uma forma de elevação da consciência e reconhecimento do óbito. Em seguida, vem a sensação de viagem para algum lugar desconhecido acompanhada de uma análise do que fez ao longo da vida. Por fim, o paciente sente que está em um lugar que parece um “lar”, antes de finalmente retornar ao mundo real.
Embora isso possa parecer psicodélico, os cientistas afirmam no estudo recente, citados pelo IFL Science, que as experiências de quase morte não estão associadas às alucinações, ilusões ou experiências induzidas por drogas psicodélicas, embora resultem no mesmo tipo de transformação psicológica positiva a longo prazo.
“O que possibilitou o estudo científico da morte é que as células cerebrais não ficam irreversivelmente danificadas em poucos minutos de privação de oxigênio quando o coração para. Em vez disso, elas ‘morrem’ ao longo de horas. Isso permite que os cientistas estudem objetivamente os eventos fisiológicos e mentais que ocorrem em relação à morte”, comenta Sam Parnia, segundo o site americano.
Análises modernas do momento da morte, por meio de eletroencefalografia, mostram que atividade gama e picos elétricos surgem no cérebro após o óbito, sugerindo um aumento da consciência. Isso pode ser responsável pelos “estados elevados de consciência e reconhecimento da morte” sentidos por aqueles que se aproximam do fim. Para provar esse ponto, são necessárias mais pesquisas.
“Poucos estudos exploraram o que acontece quando morremos de maneira objetiva e científica. Nosso artigo oferece insights intrigantes sobre como a consciência existe em humanos e pode abrir caminho para novas pesquisas”, diz Parnia.