Ciência
Cachorro pensa? Estudo mostra o que acontece dentro do cérebro dos cães
Cientistas descobrem uma diferença importante na mente dos pets em relação à dos humanos
Cientistas da Universidade Emory, dos EUA, analisaram o cérebro dos cães e revelam que eles pensam, mas de uma maneira bem diferente dos humanos. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores decodificaram exames por imagem do cérebro de dois cachorros usando algoritmo de aprendizado de máquina (machine learning). A inteligência artificial ajudou a analisar os padrões neurais para entender como a mente canina reconstrói o que vê, explica o jornal argentino La Vanguardia.
Os resultados, que foram publicados na última terça (13/9) no periódico científico Journal of Visualized Experiments, sugerem que os cães estão mais atentos às ações em seu ambiente do que a quem ou o que as está realizando.
Os animais analisados foram Daisy, uma boston terrier, e Bhubo, um boxer. Esses dois pets, únicos que conseguiram ter a concentração necessária para o estudo, de acordo com o jornal argentino, tiveram que assistir três sessões de vídeos durante meia hora, num total de 90 minutos, enquanto estavam soltos e relaxados em uma máquina de ressonância magnética.
Tudo o que os cães viram foi registrado da perspectiva deles: pessoas interagindo com seus animais de estimação, cachorros correndo ou recebendo guloseimas. Essas imagens foram intercaladas com outras que incluíam gatos, veados ou pessoas. Dois voluntários humanos também assistiram aos mesmos vídeos e tiveram seus dados neurais analisados.
“Foi divertido porque essa é uma ciência séria, e muito tempo e esforço foram dedicados a isso, mas tudo se resumia a esses cães assistindo a vídeos de outros cães e humanos agindo como se fossem patetas”, comenta a pesquisadora Erin Phillips, principal autora do estudo, citada pelo La Vanguardia.
Em seguida, os cientistas aplicaram o algoritmo complexo chamado Ivis aos dados obtidos. Ele foi treinado para analisar os padrões dos dados neurais e classificá-los em objetos e ações. “Mostramos que podemos monitorar a atividade do cérebro de um cachorro enquanto assistia a um vídeo e, pelo menos até certo ponto, reconstruir o que ele estava imaginando”, diz o pesquisador Gregory Berns, outro autor do estudo.
Os resultados dos participantes humanos mostraram que o modelo computacional foi capaz de reconhecer 99% da rede neural em relação a objetos e ações. Para os cães, a IA não funcionou tão bem para objetos, mas alcançou de 75% a 88% de precisão na decodificação das ações. Por isso, os pesquisadores acreditam que existem diferenças importantes no funcionamento do cérebro de humanos e pets.
Citado pelo jornal argentino, Gregory Berns explica que nós somos “muito orientados pelos objetos”, enquanto os cães “parecem estar menos preocupados com quem ou o que veem e mais com a ação em si”. Por outro lado, existem grandes diferenças nos sistemas visuais de cães e pessoas. Geralmente, nós vemos tudo em cores, enquanto os cães enxergam apenas tons de azul e amarelo.
Curiosamente, os cachorros têm uma densidade um pouco maior de receptores visuais projetados para detectar movimento. Essa característica é vital para entender como os cães “são mais atentos às ações”.
De qualquer forma, é preciso lembrar que esse estudo é apenas um primeiro passo na área, com amostragem muito pequena, já que só analisou dois cães. “Espero que nosso artigo ajude a abrir caminho para que outros pesquisadores apliquem esses métodos a cães, assim como a outras espécies, para que possamos obter mais dados e insights sobre o funcionamento da mente de diferentes animais”, comenta Erin Phillips.