Ciência

Aquecimento global também afeta a crosta terrestre, diz estudo

Além de elevar o nível dos oceanos, o derretimento das calotas polares está alterando a superfície da Terra

Por João Paulo Martins  em 24 de setembro de 2021

(Foto: Freepik)

 

Para quem achava que o aquecimento global estava causando “apenas” o derretimento das geleiras e a elevação do nível dos oceanos, cientistas acabam de descobrir que a perda das calotas polares está deformando a crosta terrestre.

O estudo que relata esse efeito da mudança climática foi publicado em agosto no periódico científico Geophysical Research Letters.

“Pense numa placa de madeira flutuando sobre uma banheira cheia d’água. Se você empurrar a prancha para baixo, ela faz com que a água desça. E se pegá-la, verá a água subindo para preencher o espaço vazio”, explica a pesquisadora Sophie Coulson, da Universidade de Harvard, nos EUA, uma das autoras do estudo, citada pelo site americano de notícias científicas IFL Science.

Esse efeito citado pela cientista é chamado “rebote” e gera situações estranhas, como o nível do mar baixando ano após ano em lugares como Canadá e Escócia. Outra analogia usada pelo site especializado é como sentar num sofá: a Terra é o assento e sua bunda assume o papel de uma gigantesca geleira; quando você se senta, a almofada afunda sob você, mas se amontoa ao redor; já ao se levantar, a marca deixada pela bunda volta ao normal (efeito rebote) e as áreas ao redor da almofada se alisam novamente.

O mesmo ocorre com a crosta terrestre, segundo o novo estudo. Como mostra o IFL Science, quando a camada de gelo Laurentide, no polo norte, derrete, o Canadá e o Alasca não são mais pressionados pelo gelo e o sul dos Estados Unidos deixa de ser empurrado para cima. É por isso que a área ao redor da Baía de Hudson, no Canadá, está aumentando cerca de 1,27 cm a cada ano, enquanto a cidade de Washington (EUA) pode ficar debaixo do mar em 2.200.

Os cientistas explicam que o derretimento das calotas polares está causando a deformação da Terra “mesmo em pontos a mais de 1.000 km do local da perda de gelo”. Porém, eles não imaginavam que em alguns lugares a crosta estava se movendo mais horizontalmente do que verticalmente.

“Em algumas partes da Antártida, por exemplo, o efeito rebote da crosta está mudando a inclinação da rocha sob as geleiras e isso pode afetar a dinâmica do gelo. Em escalas de tempo recentes, pensamos na Terra como uma estrutura elástica, ao passo que em milhares de anos, a Terra atua mais como um fluido de movimento muito lento […] Os efeitos da Era do Gelo [entre 1,8 milhão e 10.000 anos atrás] demoram muito, mas muito tempo para terminar e, portanto, ainda podemos ver os resultados ainda hoje”, afirma Sophie Coulson ao site americano.

A descoberta de que a perda de gelo causada pelo aquecimento global distorce a superfície da Terra em todas as direções pode ajudar cientistas a entenderem vários fenômenos, explica a cientista, inclusive observar com precisão os movimentos tectônicos e a atividade dos terremotos.

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