Bem-Estar

Maraviroc, remédio usado contra o HIV, pode ajudar na perda de memória, afirma estudo

Cientistas descobriram que o medicamento é capaz de inibir um gene que impede conexões cerebrais necessárias para construir as lembranças

Por João Paulo Martins  em 26 de maio de 2022

(Foto: Pixabay)

 

A perda de memória típica do envelhecimento pode ser restaurada usando um medicamento para o vírus HIV (causador da Aids), afirmam cientistas em estudo publicado na última quarta (25/5) na revista científica Nature.

Pesquisadores identificaram o gene CCR5 está associado à eliminação de memórias desnecessárias e descobriram que desligá-lo pode levar ao aumento da capacidade de memorização.

Como mostra o jornal britânico The Independent, o gene também codifica o receptor que o HIV precisa para infectar as células, e o medicamento chamado maraviroc, que está disponível no mercado, é capaz de inibir esse efeito.

No estudo atual, a droga se mostrou uma maneira simples de fortalecer a memória humana na meia-idade e uma possível intervenção precoce para tratar a demência.

“Nosso próximo passo será organizar um ensaio clínico para testar a influência do maraviroc na perda de memória precoce com o objetivo de intervir precocemente. Uma vez que entendemos completamente como a memória diminui, temos o potencial de desacelerar o processo”, comenta o pesquisador Alcino Silva, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos EUA, citado pelo periódico.

O cérebro não costuma armazenar memórias individualmente. Em vez disso, ele as guarda em grupos, de modo que a lembrança de um evento significativo desencadeia a lembrança de outros momentos. No entanto, à medida que envelhecemos, perdemos gradualmente a capacidade de conectar as memórias, tornando muito mais difícil lembrar de certas ocasiões.

A pesquisa recém-publicada foi testada em cobaias de meia-idade para descobrir quais partes do cérebro estavam ativas quando as memórias estavam se conectando, informa o The Independent. Os cientistas descobriram que, quando o gene CCR5 era excessivamente ativo, interferia nas conexões da memória, levando os animais a esquecerem a diferença entre duas gaiolas.

Por outro lado, quando o gene foi deletado, as cobaias puderam voltar a conectar as memórias. O mesmo efeito aconteceu quando os camundongos receberam o remédio maraviroc.

“Nossas memórias são uma grande parte de quem somos. A capacidade de vincular experiências interligadas nos ensina como permanecer seguros e agir com sucesso no mundo. A vida seria impossível se nos lembrássemos de tudo. Suspeitamos que o CCR5 permite que o cérebro conecte experiências significativas filtrando detalhes menos importantes”, afirma Alcino Silva ao jornal britânico.

Quando as cobaias mais velhas receberam maraviroc, a droga duplicou o efeito de interrupção genética do CCR5. Com isso, foram capazes de voltar a conectar as memórias.

A expectativa dos pesquisadores é que o maraviroc possa ser usado de forma off-label (fora do recomendado pela bula) para ajudar a restaurar a perda de memória em pessoas de meia-idade, bem como reverter problemas cognitivos associados à infecção por HIV.

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