Bem-Estar

Excesso de poluição aumenta risco de demência, ao menos para cobaias

Estudo descobre que o ar gerado pelo trânsito intenso das grandes cidades pode favorecer o surgimento de demência ou Alzheimer em ratos

Por João Paulo Martins  em 26 de maio de 2021

Vários estudos já associaram a poluição do ar ao maior risco de desenvolvimento da demência ou doença de Alzheimer, que afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Agora, uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia, nos EUA, sugere que pode haver uma ligação entre a poluição do ar causada pelos automóveis ao risco aumentado de demência relacionada à idade, incluindo Alzheimer.

Os pesquisadores montaram um viveiro de cobaias perto de um túnel de tráfego bem intenso no norte da Califórnia. Eles fizeram isso para reproduzir a poluição à qual os humanos podem ser expostos com o trânsito das grandes cidades.

“Estudos epidemiológicos podem fornecer evidências sobre a força da associação entre a exposição e o resultado, mas não podem estabelecer uma relação de causa e efeito, por isso houve a necessidade de realizar experimento com animais para confirmar a causalidade”, explica a pesquisadora Pamela Lein, uma das autoras do estudo, em entrevista ao site de notícias de saúde Medical News Today.

Impacto da poluição na condição neurológica

Para o estudo, publicado dia 10 de maio na revista científica Environmental Health Perspectives, os cientistas expuseram ratos machos e fêmeas a ar filtrado e poluído por cerca de 15 meses.

Eles retiraram o ar poluído do túnel movimentado em tempo real e o entregaram diretamente aos animais, sem qualquer processo de filtragem.

A equipe dividiu os ratos em dois grupos: um formado por cobaias que possuíam genes de risco para a doença de Alzheimer; e outro grupo formado por animais selvagens.

Os pesquisadores realizaram o teste de absorção de ar limpo e sujo por três, seis, 10 e 15 meses. Eles quantificaram a expressão das características da demência por meio de imagens hiperespectrais (exibem vários comprimentos de onda da luz) e testes comportamentais.

Os resultados apontam que a exposição à poluição do ar relacionada ao tráfego agitado acelerou e aumentou as características relacionadas à doença de Alzheimer nas cobaias que eram geneticamente suscetíveis ao problema neurológico. O mesmo efeito foi observado nos ratos selvagens.

“Nossos dados demonstraram que a poluição do ar relacionada ao tráfego diminui o tempo de início e aumentou a gravidade da doença em ratos que expressaram fatores de risco genéticos para a doença de Alzheimer”, comenta Pamela Lein ao Medical News Today.

Ela alerta que os dados sugerem que mesmo os indivíduos que não expressam genes de risco para a demência podem vir a desenvolvê-la se estiverem constantemente expostos à poluição do ar gerada pelos veículos das grandes cidades.

Ainda assim, é muito cedo para dizer se como as descobertas podem ser traduzidas para os humanos. Os cientistas afirmam que as doenças neurológicas como o Alzheimer são complexas e provavelmente há uma série de fatores que contribuem para o risco aumentado de desenvolvê-las.

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