Bem-Estar

Estudo revela que dislexia não é transtorno, mas uma forma diferente de pensar

Segundo os cientistas, cérebros disléxicos evoluíram para analisar o mundo de uma forma mais ampla, sem necessidade de atenção aos detalhes

Por João Paulo Martins  em 25 de junho de 2022

(Foto: iStock)

 

A dislexia deve ser considerada uma forma diferente de pensar, não um distúrbio, afirmam cientistas no estudo publicado na última sexta (24/6) na revista científica Frontiers in Psychology. Eles chegaram a essa conclusão por meio de análises cognitivas, comportamentais e do cérebro que mostram que as pessoas com dislexia são especializadas em explorar o desconhecido e pensar “além da caixa”.

Os pontos fortes da mente disléxica, segundo a revista britânica Science Focus, podem ter evoluído à medida que os humanos se adaptaram a um ambiente em mudança. Para sobreviver, precisávamos aprender habilidades e adquirir hábitos, mas também ser criativos e encontrar novas soluções por meio da exploração.

Na pesquisa recém-divulgada, os cientistas dizem que, como o cérebro tem capacidade limitada, a única maneira de melhorar a adaptação é usar diferentes estratégias. Algumas pessoas se especializaram mais na exploração de informações aprendidas, enquanto outras se concentraram mais na descoberta e na invenção.

“Em muitos outros campos de pesquisa, entende-se que os sistemas adaptativos, sejam organizações, cérebro ou colmeia, precisam alcançar um equilíbrio entre o tanto em que exploram e tiram vantagem para se adaptar e sobreviver”, comenta a pesquisadora Helen Taylor, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, coautora do estudo, citada pela revista britânica.

As descobertas mostram que pessoas com dislexia são menos eficientes no aprendizado processual do que as demais, esclarece Taylor, mas isso gera pontos positivos e negativos para ambos os grupos.

“Aprender a ler, escrever ou tocar piano são exemplos de habilidades que dependem da memória processual; uma vez aprendidas, as habilidades podem ser processadas automaticamente e rapidamente repetidas vezes. Por outro lado, se um indivíduo tem dificuldade em adquirir a automaticidade, ele mantém a percepção consciente do processo. A vantagem é que uma habilidade ou processo ainda pode ser aprimorado e a exploração pode continuar”, afirma a cientista à Science Focus.

Por mais de 100 anos, a dislexia tem sido vista de forma negativa, associada ao transtorno de déficit de atenção. Ela é considerada um problema no desenvolvimento e na capacidade de aprendizagem. Mas, a distinção entre cérebros disléxicos e tradicionais deve ser enquadrada simplesmente como uma forma diferente de pensar, revela Helen Taylor.

“Todos nós temos dificuldades em áreas que são os pontos fortes de outras pessoas. É lamentável que no caso de quem tem dislexia, as dificuldades sejam continuamente destacadas, em parte devido à natureza da educação e em parte devido à importância da leitura/escrita na nossa cultura”, completa a pesquisadora da Universidade de Cambridge.

Ela conta que a maneira como o cérebro organiza os neurônios difere dependendo se é melhor no pensamento global “expandido” ou no pensamento local “orientado para detalhes”. Indivíduos com dislexia demonstraram ter mais conexões de longo alcance e menos locais.

Como essas formas de pensar evoluídas são complementares, elas funcionam melhor em colaboração, afirma Taylor à revista. A união de cérebros exploradores de pensamento global com os de pensamento local leva a soluções que não poderiam ser imaginadas por um indivíduo ou mesmo um grupo de pessoas semelhantes.

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