Bem-Estar

Descoberta a causa para a “fome eterna” de certas pessoas

Estudo mostra que alguns indivíduos podem apresentar maior queda na taxa de açúcar no sangue até quatro horas após as refeições, o que os levam a querer comer mais

Por João Paulo Martins  em 18 de junho de 2021

(Foto: Freepik)

Cientistas descobriram que as pessoas que vivem com fome podem ter um problema que causa baixos níveis de açúcar no sangue horas após as refeições, o que leva à maior ingestão de calorias.

Isso é fruto de uma pesquisa publicada em abril na revista científica Nature Metabolism, e que analisou dados do estudo nutricional britânico que durou três anos e é chamado PREDICT.

Os resultados explicam porque algumas pessoas lutam para perder peso, mesmo fazendo dietas de controle de calorias, e que é importante compreender como o metabolismo de cada pessoa funciona de forma diferente.

O estudo coletou dados detalhados sobre os níveis de glicose no sangue e outros marcadores de saúde de 1.070 pessoas após tomarem o café da manhã normal e depois de fazerem refeições escolhidas livremente por um período de duas semanas – foram mais de 8.000 lanches matutinos e 70.000 refeições no total.

Foi considerado “normal” o café da manhã composto por muffins contendo a mesma quantidade de calorias, mas variando na composição em termos de carboidratos, proteínas, gorduras e fibras. Os participantes também realizaram um teste de resposta ao açúcar no sangue em jejum (tolerância à glicose), para medir como o corpo é capaz de processar o carboidrato.

Os participantes usaram monitores contínuos de glicose para medir os níveis de açúcar no sangue durante todo o estudo, bem como um dispositivo para monitorar a atividade e o sono. Eles também registraram os níveis de fome e estado de alerta usando um aplicativo de telefone, além de quando e o que comeram durante o dia.

Resultado do estudo

Estudos anteriores já mostraram que os níveis de glicose no sangue podem aumentar e diminuir nas primeiras duas horas após uma refeição, o que é conhecido como pico de açúcar. No entanto, depois de analisar os dados do PREDICT, os cientistas notaram que alguns voluntários experimentaram “quedas de açúcar” mais significativas de duas a quatro horas após o pico de glicose no sangue.

Os “comilões” tiveram um aumento de 9% na fome e começaram a refeição seguinte 30 minutos antes, em média, em relação às pessoas com apetite “normal”, embora comessem exatamente as mesmas coisas.

Além disso, segundo o estudo, os “famintos” comeram 75 calorias a mais de três a quatro horas após o café da manhã e cerca de 312 calorias a mais durante todo o dia em relação aos demais participantes. Esse tipo de padrão pode potencialmente representar o ganho de 9,7 kg de peso ao longo de um ano, alertam os cientistas.

“Há muito se suspeitava que os níveis de açúcar no sangue desempenham um papel importante no controle da fome, mas os resultados de estudos anteriores foram inconclusivos. Agora mostramos que as quedas da taxa de glicose são um indicador melhor da fome e da ingestão de calorias do que a resposta inicial do pico de açúcar no sangue após comer, mudando a forma como pensamos sobre a relação entre os níveis de açúcar no sangue e os alimentos que consumimos”, explica a pesquisadora Sarah Berry, da Universidade King’s College de Londres, uma das autoras do estudo, citada pelo site de notícias científicas Neuroscience.

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