Bem-Estar

Consumo excessivo de alimentos ultraprocessados pode levar ao declínio cognitivo

Segundo estudo recém-publicado, ingerir cerca de 20% de alimentos ultraprocessados todo dia pode acelerar em 28% a perda cognitiva

Por João Paulo Martins  em 06 de dezembro de 2022

(Foto:Pixabay)

 

Cientistas encontraram uma associação entre o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, como nuggets, salgadinhos e refrigerantes, e o declínio cognitivo. Os resultados foram publicados na última segunda (5/12) no periódico científico JAMA Neurology.

Citados pela agência americana de notícias UPI, os pesquisadores revelam que, no geral, 58% das calorias consumidas nos EUA, 57% da dieta britânica, 48% da canadense e 30% da brasileira são provenientes de alimentos ultraprocessados, incluindo cereais matinais, sorvetes, bebidas açucaradas, carnes processadas e refeições prontas congeladas.

Os participantes do estudo que consumiam mais de 19,9% das calorias diárias com esse tipo de alimento, apresentaram uma taxa 28% mais rápida de declínio cognitivo e 25% mais rápida de redução da função executiva – habilidades mentais como aprender, trabalhar e administrar a vida. Essas taxas foram obtidas em comparação às pessoas que não comiam alimentos ultraprocessados ou consumiam menos de 19,9% diariamente. Os voluntários foram acompanhados por uma média de oito anos.

De acordo com a agência de notícias, embora a ingestão desses produtos tenha sido associada a um risco aumentado de doenças cardiovasculares, síndrome metabólica e obesidade, poucos estudos investigaram a associação entre os alimentos industrializados e o declínio cognitivo em países de alta renda.

A pesquisa foi liderada por Natalia Gomes Gonçalves, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e avaliou a associação entre consumo de alimentos ultraprocessados e declínio cognitivo em 10.775 voluntários brasileiros que participam do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto. O estudo envolveu uma amostra etnicamente diversa de servidores públicos, com idades entre 35 e 74 anos, recrutados em seis cidades brasileiras.

O consumo de alimentos e bebidas ao longo de 12 meses foi avaliado no início do estudo por meio de um questionário padrão de frequência alimentar. O consumo de cada item foi transformado em gramas por dia e, em seguida, os alimentos foram classificados em três grupos, de acordo com o grau de processamento usado em sua confecção:

  • Primeiro grupo: não processados ou minimamente processados, como frutas ou vegetais frescos, secos ou congelados, grãos, carne, peixe e leite, que passaram por processamento mínimo como moagem, torrefação, pasteurização ou congelamento. Também incluía ingredientes culinários processados, como açúcar de mesa, óleos e sal
     
  • Segundo grupo: alimentos processados, incluindo frutas enlatadas, pães e queijos artesanais e carnes ou peixes salgados, defumados ou curados
     
  • Terceiro grupo: alimentos ultraprocessados com aditivos alimentares não utilizados no preparo caseiro, como aromatizantes, corantes, adoçantes, emulsificantes e outras substâncias utilizadas para disfarçar qualidades indesejáveis do produto final ou imitar as qualidades sensoriais de preparações culinárias

Segundo a UPI, os cientistas também analisaram o desempenho cognitivo dos participantes durante os oito anos de acompanhamento. Eles foram testados até três vezes a cada quatro anos, incluindo exames de memória por meio de testes de lembrança imediata e tardia, usando uma lista de palavras recomendada pelo Consórcio para Estabelecer um Registro para a Doença de Alzheimer (The Consortium to Establish a Registry for Alzheimer's Disease).

Os pesquisadores testaram a função executiva das pessoas usando ferramentas que incluíam testes de fluência verbal. “As descobertas apoiam as recomendações atuais de saúde pública para limitar o consumo de alimentos ultraprocessados devido ao seu potencial dano à função cognitiva”, concluíram os autores, citados pela agência.

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