Bem-Estar

Como foram as últimas 24h do colombiano que morreu por eutanásia

Victor Escobar, morador de Cali, na Colômbia, é o primeiro latino-americano a ter a eutanásia aprovada e executada sem sofrer com uam doença terminal

Por João Paulo Martins  em 08 de janeiro de 2022

Victor Escobar é o primeiro latino-americano a morrer por eutanásia (Foto: Twitter/Reprodução)

 

O morador de Cali, na Colômbia, Victor Escobar, de 60 anos, comeu caçarola de frutos do mar como último desejo. Ele se tornou o primeiro colombiano e latino-americano a morrer por eutanásia sem ter uma doença terminal.

Às 19h da última sexta (7/1), Escobar foi submetido à morte assistida sem ter uma doença terminal.

Seu último desejo era a caçarola de frutos do mar, que comeu ao lado da esposa Diana, os dois filhos e seu advogado, revela o site El Colombiano. Eles pediram a comida em casa, porque a dor nos pulmões de Victor era forte demais para sair. E o seu último desejo era que o cremassem neste domingo (9/1), com a camisa do clube de futebol Deportivo Cali e que toda a vizinhança pudesse ir ao velório.

A eutanásia do caliense de 60 anos foi cumprida depois de dois anos de disputa judicial. Mesmo assim, ele não acordou feliz, mas angustiado. “Não é fácil pra ninguém morrer”, diz o advogado de Victor Escobar, Luis Carlos Giraldo, ao site colombiano.

Embora seu corpo doesse insuportavelmente e constantemente, quando começou a busca por uma morte digna, a lei colombiana não previa a eutanásia de pacientes como ele.

Suas múltiplas enfermidades, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), trombose pulmonar e cerebral, acidente vascular cerebral e outras comorbidades não são consideradas terminais e, portanto, não foram suficientes para ter o direito à morte assistida, explica o El Colombiano.

Na Colômbia, até meados do ano passado, esse direito era reservado aos portadores de doenças terminais. Por isso, quando pediu a morte assistida à clínica Valle de Lili, o pedido foi negado, uma vez que não cumpria os requisitos. A eutanásia de Escobar foi conseguida graças ao Tribunal Constitucional.

A sentença C-233 de 2021, publicada pelo tribunal em outubro do mesmo ano, ampliou a possibilidade de acesso à morte digna em nosso país vizinho. De acordo com a sentença, pacientes em circunstâncias extremas, sob intenso sofrimento incompatível com sua dignidade e sem possibilidade de alívio por doenças graves incuráveis, ou por lesões corporais, podem solicitar a eutanásia.

Com a decisão em mãos, Escobar contatou Giraldo, advogado que o acompanhou em todo o processo. Eles entraram com uma ação de tutela para garantir o direito que, na época, tinha certeza que poderia reivindicar.

A data que parecia impensável chegou para o colombiano, que acabou realizando a eutanásia antes da colombiana Martha Sepúlveda, com esclerose lateral amiotrófica, que no dia 10 de outubro de 2021 teve o pedido surpreendentemente cancelado na noite anterior à morte assistida. Depois de travar sua própria batalha jurídica, Escobar conseguiu que um juiz ordenasse que sua eutanásia fosse marcada.

Carregar Mais