Alimentação

Misturar toranja com certos remédios, como os de pressão alta, pode ser até fatal

Fruta famosa por ser muito ácida possui um componente que afeta o metabolismo de vários medicamentos, alerta uma agência federal dos EUA

Por João Paulo Martins  em 31 de agosto de 2023

(Foto: Freepik)

 

Um artigo publicado pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, agência federal que atua como a nossa Vigilância Sanitária, está causando polêmica ao alertar para o risco (inclusive fatal) de misturar certos medicamentos com a toranja (grapefruit), fruta cítrica extremamente ácida.

Esse problema é confirmado por vários estudos, como observa o site americano de notícias científicas Science Alert, que mostrou que compostos químicos chamados furanocumarinas, encontrados em altas concentrações na toranja, podem reduzir ou aumentar a absorção de certos remédios. Isto resulta em níveis perigosamente baixos ou, como é mais frequente, perigosamente elevados desses fármacos no organismo.

As furanocumarinas que interagem com medicamentos não estão apenas nas toranjas. Esse tipo de substância está presente em pomelos e mexericas.

Segundo o farmacologista Shiew Mei Huang, no artigo da FDA, “o suco da toranja permite que mais droga entre no sangue. Quando há muito remédio no sangue, você pode ter mais efeitos colaterais”.

Ele explica que nosso corpo produz uma enzima chamada citocromo P450 3A4 (ou CYP3A4), principalmente no fígado e no intestino delgado, que ajuda na quebra de pequenas moléculas “estranhas”, como toxinas e medicamentos, para que você possa eliminá-las. Essa enzima desempenha papel crucial na metabolização de vários fármacos.

As furanocumarinas interferem na capacidade de o corpo produzir ou usar efetivamente a CYP3A4. De acordo com a FDA, um copo de suco de toranja já é suficiente para interferir na atividade da CYP3A4, e o consumo contínuo da fruta leva à redução da atividade hepática associada à enzima.

Isso, por sua vez, interfere na capacidade do corpo de metabolizar certos medicamentos orais. Uma maior quantidade do remédio é liberada no sangue e permanece no corpo por mais tempo, produzindo uma espécie de overdose mesmo quando você toma a dosagem certa. Isso pode ser visto com drogas para colesterol e pressão arterial e até com remédios contra o câncer e ansiolíticos (para ansiedade).

Os resultados dessa interação podem ser bem perigosos. Os sintomas incluem batimento cardíaco acelerado, degradação do tecido muscular, toxicidade da medula óssea, falta de ar, sangramento gastrointestinal e insuficiência renal. Em casos extremos, aparentemente raros, o efeito das furanocumarinas podem ser fatais.

A Food and Drug Administration alerta ainda que, com alguns tipos de medicamentos, a toranja pode produzir um efeito contrário. Com a fexofenadina (antialérgico), por exemplo, o consumo dessa fruta cítrica reduz a eficácia do fármaco. Embora os efeitos colaterais potenciais não sejam tão graves, a alergia acaba não sendo devidamente combatida.

De qualquer forma, se você está tomando medicamentos importantes, não precisa necessariamente evitar a toranja como se fosse um veneno. Basta perguntar ao seu médico ou a um farmacêutico sobre potenciais interações e se certificar de ler todas as informações fornecidas na bula.

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