Alimentação

Havanna poderá usar trigo transgênico nos alfajores e fãs reagem

Usuários do Twitter criam hashtag para criticar decisão da marca argentina de fazer parceria com empresa de biotecnologia que criou o trigo geneticamente modificado HB4

Por João Paulo Martins  em 18 de maio de 2021

Internautas acreditam que ao usar o trigo transgênico HB4, a Havanna estará envenenando os alfajores com o herbicida glufosinato de amônio (Foto: Freepik)

Na última segunda (17/5), explodiu uma campanha no Twitter usando a hashtag (palavra-chave) #chauhavanna, que logo virou tendência (trending topic) entre os assuntos mais comentados da rede social. Tudo porque os internautas ficaram sabendo que a Havanna, famosa marca de alfajores de Mar del Plata, na Argentina, assinou um acordo com a empresa argentina de biotecnologia Bioceres para usar trigo geneticamente modificado, chamado HB4, em seus produtos.

Em outubro de 2020, a Bioceres recebeu a aprovação do Ministério da Agricultura da Argentina para a produção das sementes de trigo HB4. Como se sabe, nosso vizinho é o maior produtor de trigo da América Latina e o primeiro país do mundo a adotar esse transgênico, que é tolerante à seca e ao uso do herbicida glufosinato de amônio.

“A Bioceres está empenhada em buscar o desenvolvimento e a comercialização de produtos sustentáveis esse acordo com a Havanna representa a primeira aplicação da empresa ao consumidor”, diz a empresa de biotecnologia em comunicado publicado em seu site.

Ela afirma que o novo acordo dará aos clientes da Havanna no Brasil e na Argentina a opção de escolher “produtos alimentícios com uma pegada de carbono significativamente reduzida”, que ajudariam a “combater as mudanças climáticas e a preservar os ecossistemas nativos”.

Reação no Twitter contra o HB4

Ainda assim, os usuários do Twitter não receberam muito bem a notícia, alegando que os tradicionais alfajores da Havanna chegarão ao mercado com o herbicida glufosinato de amônio.

“O que anunciaram a Havanna e a Bioeres? Basicamente que, sempre e enquanto o Brasil estiver comprando, vai usar farinha de trigo transgênico HB4. Este trigo é resistente ao glufosinato de amônio, perigoso para a saúde, biodiversidade e o ambiente”, comenta o perfil da Associação Argentina dos Defensores Ambientalistas no Twitter.

“O trigo transgênico HB4 trabalha com glufosinato de amônio, um pesticida capaz de afetar o sistema neurotransmissor induzindo desde a perda de memória até convulsões. Investigações locais e estrangeiras comprovaram sua característica genotóxica e neurotóxica”, publica o usuário Patricio Eleisegui na mesma rede social.

HB4 não é tão bem-vindo no Brasil

Uma matéria publicada pelo site Globo Rural em outubro de 2020 sobre a liberação do trigo transgênico HB4 na Argentina lembra que o seu cultivo aguarda a permissão de comercialização com o Brasil, que importa 45% do trigo argentino.

A indústria alimentícia brasileira teme que os consumidores rejeitem o uso do cereal transgênico, já que, segundo a nossa legislação, quando a fabricação usa mais de 1% de ingrediente geneticamente modificado, essa informação deve ser colocada no rótulo.

“O nosso consumidor busca produtos mais saudáveis. A cada dia, eles estão cuidando mais da saúde e nunca querem produtos com aditivos ou manipulações artificiais. O trigo transgênico está na contramão do que os nossos consumidores procuram”, afirma Paulo Meneguelli, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pães e Confeitaria, em entrevista ao Globo Rural na época.

A matéria destaca ainda que apesar de a Bioceres afirmar que a variedade HB4 possui “tolerância à estiagem e ao glufosinato de amônio”, o uso do herbicida não é autorizado nas plantações de trigo da Argentina.

Os Estados Unidos também chegaram a aprovar o uso do cereal transgênico em 2004, mas voltaram atrás após pressão popular.

Para quem não sabe, a Havanna foi fundada em 1947, na província de Buenos Aires, e distribui seus produtos em todo o mundo, incluindo uma variedade de biscoitos, chocolates e barras de cereais. Em 1995, a empresa passou a abrir lojas próprias (cafeterias) e franqueadas e, atualmente, opera mais de 300 pontos na Argentina, Brasil, Chile, Peru, Espanha e Estados Unidos.

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